Para Além da Margem — da página
Autor: André Claro on Tuesday, 14 November 2017Ter sentimento nenhum,
É um abuso para quem
Sedimenta-se no afeto,
Um luxo para os broncos
Que não são afeitos
Nem a um abraço fraterno.
Ter sentimento nenhum,
É um abuso para quem
Sedimenta-se no afeto,
Um luxo para os broncos
Que não são afeitos
Nem a um abraço fraterno.
Porque falas, amiga, dos dias cinzentos?
Todo o homem é uma incógnita viagem!
Deixa fluir a sombra que desgosta...
O sol sempre a sorrir também é tédio.
Nem sempre o que não temos é tristeza
e o pranto das nuvens pode ser consolo.
O segredo está na chuva que cai,
no seu chorar cantante, transparente ,
nessa voz que no silêncio chama,
nesse íntimo sentir que tens dentro do peito.
Isa Sousa/2017
O tempo se despoja de minha espera,
Faz troça da minha paciência
Tiquetaqueando, me condena,
Revela-me sua perene onomatopeia.
Aguarda-me sem pressa,
Como quem apenas me observa.
Mas sei que dele dependo,
Que no fim vou carecer de tempo.
O tempo todo de nenhum momento esperado.
O mesmo tempo que me sobra
Apenas quando não o tenho,
Pois se o tenho, ele já me falta.
Tenho pena de todo aquele homem
Que lista em seu compêndio,
Apenas
Um ancoradouro de sonhos,
Um rebocador de desilusões.
Que arquiteta
Um arcabouço de seu dilema
De sobreviver entre o jorro
De desejos — que são por natureza
Privados do ter
E o mérito gozado,
Superficialmente, por medo
De ser.
Queria ver o que está
Cá atrás desse escuro denso
De minha cegueira,
Não me iludir ao sentir
O que me trouxerem,
E enxergar o que não vejo
Sem querer certeza.
Tatear sem a luz,
Desbravar o caminho,
Pisar um passo de cada vez
Para não chegar apenas
Àquilo que o mundo vê de mim.
Quantas vezes, olhei sem ver.
Vi o que não escutei.
Mas agora, sem espelhos,
Sou olhos de mim mesmo,
Reflexo de ninguém.
Tocam os sinos da igreja matriz,
Uníssonos,
Arrebanhando fiéis,
Pecadores, fanáticos,
De rostos barbeados,
Em roupas de atriz.
Vão caminhando para a praça,
Com seus sapatos engraxados.
Uns tilintando nos bolsos,
Algumas moedas do troco
Do parque de diversões
Para na oferenda bem servirem,
Para terem seus perdões,
Consagrarem os seus devires.
"Chuva"
Cai chuva do céu
leva raiva embora
traz calma que não temos no dia a dia
a natureza pede trégua la fora
como é bom dormir ao seu som
trilhar o som e sonhar
sonhos de alegria
o mundo para olhar
parece ambiente e agonia
mas olhas
deixas um vazio em mim
deixas também as cores
embelezando o firmamento
mostrando ate as dores
que sofre pessoa ao relento
aquela fantasia que traz de volta um outro dia.
Fala-me do fundo dessa tua alma,
Se sou homem que valha a pena,
Se tenho fatos que me inocentam,
Ou se não passo de um canalha.
Bata-me, mas não fique quieta,
Não me deixe como um asceta,
Que tudo compreende ou releva.
Aliás, é melhor não dizer nada,
Sei o que dirão as tuas palavras,
— nessa ocasião nada abstêmia,
Dirão que você é o meu problema.