Meditação

Às vezes fria

Às vezes fia

Poesia minha companhia
Às vezes quente, às vezes fria
Somente seu conforto
Me traz alegria

Se relembro desenterro
Se esqueço descrevo
Se me esqueço me encontro
No primeiro ato do escrevo

Poetizar no teu seio
É amamentar meus caprichos
De ser o que não fui
Naquilo que sempre anseio

De volta pra realidade
Só fico com sua saudade
De voltar a te rever
Poesia meu bem querer

Tilintar supremo

Tilintar supremo

No tilintar do sino tem algum aviso
Este gemido do ferro traz esperança
Ou simula uma desilusão findada
De alguém que já espectacularisou na vida

Pelas batidas insistentes é de desespero
Como o desembrulhar de um feito
Que fora desfeito por alguma causalidade
Ou pelo vexame de alguma maldade

Bate lá o sino, pequenino, sino do além
Se nasceu algum menino ou menina
Que venha nos acompanhar para o bem
Com saúde dos que aqui cantam sem rima

Mãe de todas as mortes

Mãe de todas as mortes

Se a morte não lhe assusta mais
É porque venceste na vida
Se a morte ainda lhe assusta
É porque tens longa caminhada ainda

Se o escuro lhe incomoda
Feche os olhos que verás
Que tens um escuro na vida
Maior ainda para superar

Se a solidão lhe destrata
Não se assuste pela sorte
Pois ela é irmã do escuro
Mãe de todas as mortes

Se a solidão lhe conforta
O escuro lhe acalenta
E a morte não mais lhe assusta
Superaste o que lhe impôs a vida injusta.

Janela do vento

Janela do vento

Na minha janela passa uma ventania
é a ventania do tempo que passa
contra minha velocidade pra frente
me joga pra traz e meu coração despassa

A força do vento tempo
é maior que minha velocidade animal
penso que avanço no momento
atraso apenas em veloz pensamento

Não quero ceder a este tempo
que não me deixa dormir como criança
que se cansou na ciranda
mas ao contrario me acorda pra dança

Maltrapido

Maltrapido

Penacho de penas e espinhos
Penduricalho de penas alternativas
Grudo na pena e escrevo
Plenamente meus pensamentos.
Pena que você não veio
Pra festa da paz
Não faltaste à festa da guerra
Onde a esperança se desfaz.
Plumas e paetês te vestiram
Trapos e retalhos te corrigiram
Num mundo de insolência
Trapos foram sua penitencia.

Velas e velos

Velas e velos

Rezo eu ao pé da vela,
que aquece o destino dos homens
velado e acreditado.

Iço as velas de meu barco,
velas verdejadas pelos mares,
pois venta forte rumo ao infinito.

Velo meu cachorro que morreu,
querido companheiro,
que já se encontrou com os seus.

Deito no velo de lã branca
que tem o cheiro das pastagens,
logo acordo cheio de coragem.

Um velo de transparência minguada
me cobre a face desfigurando
a imagem do universo.

Cópia visceral

Cópia visceral

Perco tudo até a cabeça
Embora creia que a cabeça
Seja a única coisa que
Não devo nunca perder

Mas perco também os pés
Os braços e as vísceras
E todas estas perdas
São programadas pelo destino
Que me atrai feito imã

Com atino me dedico
Estou a procura de outras
Cabeças, pés, braços e vísceras
Que poderiam ser melhor
Ou compatíveis com as minhas

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