a flor austera
Autor: António Tê Santos on Thursday, 21 December 2017há páginas cruentas em poemas redigidos por gente que sustenta um sopro suavizando a ideia de morrer; que transporta no peito uma cruz amortecendo qualquer espécie de decisão.
há páginas cruentas em poemas redigidos por gente que sustenta um sopro suavizando a ideia de morrer; que transporta no peito uma cruz amortecendo qualquer espécie de decisão.
os dizeres fátuos em obras derivadas de conceitos levianos, as indignidades que eu soube discernir dentro das cavernas hereditárias, as reprimendas terminantes contra as habituais transfusões.
Poetizarei sem motivo ter...
Poetizar, verbo transitivo direto.
Poeta, sujeito inconveniente, indiscreto.
Poetizo sempre no presente do indicativo,
para mostrar minhas aspirações escondidas.
Poetizei e poetizava no passado imperfeito,
indicativo de que ainda começara tarde, mas cedo.
Aos meus olhos poetizara num passado perfeito,
indicativo de que tu poetizaste e resolvia a mim.
Mais que perfeito, sempre indicativo de que
poetizáramos o impoetizável, o inaudível.
Que eu poetize sempre diante do presente,
serpenteio pelos ramais da amargura expelindo ternuras que me dignificam quando inauguro as poéticas lucubrações; ou quando reconstruo o soalho da melancolia; ou quando sopeso os meus fardos dentro de balizas escabrosas.
jorram palestras que contornam a acidez dos dias quando espalham narrações que purificam a minha juventude ao analisarem os seus desencantos com inesperada galhardia.
há ideias que se repercutem nas estruturas para que a sua absorção transgrida as reproduções habituais; para que a sua inteireza repreenda ao enovelar os porquês de certa generosidade.