o cais sereno
Autor: António Tê Santos on Sunday, 22 October 2017destaco os enlaces que atravessam as minhas comunicações ao refletir nos mistérios que ornamentam os meus protestos e ao fulgurar na abrangência que uma austera viagem me proporciona.
destaco os enlaces que atravessam as minhas comunicações ao refletir nos mistérios que ornamentam os meus protestos e ao fulgurar na abrangência que uma austera viagem me proporciona.
esconjuro as tragédias que assolam as danças humanas quando avalio as suas oposições; ou quando integro na inteligência as formalidades supersticiosas que desagrego em poesia; ou quando faço incidir na cobiça os sulcos da bestialidade.
os cardos que se abrigam na minha nomenclatura transportam o sofrimento; fundam-se na obediência a sermões fecundos ao principiarem um brusco rigor; diabolizam a esperança quando tonificam os traumatismos.
Esta noite eu tive um sonho
Tudo parecia ser real
Sonhei que como um pássaro eu voava
Entre as nuvens, voava sem parar.
Pousei num lugar tão bonito
Havia flores em todo o lugar
Vi de longe um campo verdejante
E muitas ovelhinhas a pastar
De repente ali surge um homem
Em minha direção a caminhar
Suas vestes eram brancas como a neve
O seu corpo uma luz a brilhar
Aos poucos foi envolvendo o meu ser
Para o seu rosto não consegui olhar
Comovido cai aos seus pés
Inevitável
Achava normal o impossível
a realização do inevitável
aceitando sempre o insuportável
como se tudo fosse casual.
Não tenho acaso em minha prece
me insisto em tudo que acontece
aconteço no meu desconhecer
me encontro em querer me ver.
Só me basta uma oportunidade
pra entender que o inevitável
está perto do insuportável e
estamos perto de um esquecer.
Assim me lembro e me repito
duplico, triplico sem finalização
porque sou recordação de mim
em cada momento da imaginação.
as brigas corroboram a formosura do regato que constrói as primícias dum fraterno alvor: preenche as minhas vicissitudes inundando as áleas onde a sordidez gerou contratempos; transvasa do palavreado para estorvar a ordenação que me circunda.
Eu jurei que era
Eu jurei que sou
O Sol tenro da primavera
O frio do inverno que chegou.
O aspecto desta vida marginal
É uma esfera de altos e baixos
Como um transexual
Entre fêmeas e machos.
Não sou pessoa
Sinto-me coisa figurante.
Nem coisa má nem coisa boa
Mas de falta abundante.
Um livro abandonado à estante!
Certos pensam que sou borguês
Porque marcho com os pés na frente.
Disso estou inteiro consciente
Nesta pele de burgo em viuvez.
Queria pular no vazio do universo
Penetrar esse vazio que me atacha
Viver na página do verso
Onde todo mundo me acha!
A minha borguesia
É uma caixa vazia...
Lugar comum
O corpo marionete da alma
movimenta pernas,
agita braços e perturba mente
com os desatinos existentes.
Perto de um lugar comum
onde corpo engole mente
mente engole alma
e o espírito engole todos.
Sempre assim desajustados
no menor sibilar presente
vemos todos os tempos
correndo juntos aos alentos
arrependidos e repetidos.
Os desatinos da alma e corpo
são como reflexos do corpo
se esvaindo na alma
de quem tem só desejo
de encontro ameno
nestes dias tão pequenos.
Pés e nuvens
Por que se apressam meus pés
se sequer sei a distância
se sequer sei a tolerância
que a vida vai me pautar.
Parece que a pressa de meus pés
é semelhante às nuvens do céu
ao vento que sopra nos arranha-céus
que engole a garganta do abismo.
Encurto meu andar no escuro
espicho o meu andar no mundo claro
rompi com meu destino cruel
de ser andarilho do deslaço.