alojei a esperança nos meus afazeres diários e nas minhas inspirações poéticas; nos meus empreendimentos e na minha austeridade vigente; no lodaçal donde me soergui para me poder afirmar; no sossego que fiz derivar da minha razão.
sou um poeta que busca nas emoções um bálsamo contra a hipocrisia; que reproduz as contendas e as infâmias que apavoram a maioria dos homens; que transborda confidências desde a raiz do sentimento que curam a desventura.
transporto na lembrança as vicissitudes por que passei para as desfazer através de influentes atuações que lograram evaporar o riacho mórbido do fatalismo; que lograram introduzir-se nas adúlteras paisagens que percorri para me libertarem dos meus medos.
envio mensagens odoradas àqueles que buscam sanar as suas aflitivas lembranças; retrocedo ao jardim da minha infância para saborear as cantigas deslumbrantes que me trautearam ao ouvido; para compreender os rudimentos da minha alegria.
a nossa existência logra impulsionar a virtude e a moagem saudável que a acompanha quando redigimos mensagens nascidas do calor humano que ela provoca; e das vagas de sofrimento que ela arrebata a um transposto passado.
os lugares degenerados onde perdurei transferindo para os outros as minhas inquietações; onde discorri com palavras contaminadas pelos tumultos envolventes; onde mortifiquei a alma nos antípodas duma existência descansada.
as crenças que eu abracei para repelir a insolência dos homens... para me apartar dos itinerários trilhados pelos meus ancestrais... para assumir a importância do pensamento neste mundo conturbado...
confronto aqueles que insistem em reprimir a ambição por uma vida melhor; que nos infetam com palestras antigas; que intentam transformar o mundo num lugar agreste planificado pelos seus distúrbios emocionais.
a nefanda estrutura que me cingiu nos antípodas duma vivência tranquila; nos trâmites das controversas viagens ao cerne do mundanismo; das traumáticas andanças que revolveram os meus impulsos; que me arremessaram para o fosso dos precoces desenganos.
o ócio faz-me refletir sobre os lugares que percorri para anestesiar a solidão; para suster as minhas ânsias pungentes; para olvidar os deveres que assumi; para erguer um viaduto que me transportasse a um utópico paraíso.