Meditação

os fundamentos da alma

a gaiola chora de ciúmes quando o jardim se estende pela manhã primaveril (o hábito previne a solidão e a maldita ternura alavancada pelo tédio...); tenho receio de premir a tecla do bom senso para contradizer os hábitos assombrados porque a gaiola tagarela sem parar refreando a minha impulsividade.

OS FUNDAMENTOS DA ALMA

é a reminiscência dum olhar vesgo que despeja fulgurância na poesia; é o alento emitindo palavras incisivas; é a firmeza do pensamento calcetando o piso duríssimo da mocidade quando obrigo os dizeres a contornarem os lugares-comuns onde havia sentinelas a enaltecer a roupagem patriótica ou o carpir miudinho da populaça a regar as flores do capital.

Espelho

No Espelho do Infinito
Não é o corpo que se revela
Nem os materialismos da vida,
Nem as cores, nem os sabores, nem os saberes…

Ali revelam-se apenas as emoções,
As boas e as menos boas,
Pois no Espelho do Infinito não existe o mal,
Tão-somente escolhas que se revelam certas ou erradas.

O maravilhoso Espelho do Infinito foi criado
Para saber se a tua alma e o teu espírito
Seguem de braço dado pelos trilhos da harmonia…

Só assim poderás contemplar nele um dia,
O mais puro reflexo da Vida:
A Poesia!

O herói

Ninguém o para, nada lhe dói.

Se desistir nunca será livre.

Não sobrevive por ser o herói,

É o herói porque sobrevive.

 

Não existem barreiras,

O sonho comanda a vida.

Um mundo sem fronteiras,

Onde o que cai das laranjeiras,

É o fruto da perspetiva.

Agora

Ao olhar da multidão,

Prefiro o olhar do meu cão.

Com certeza que também sou Pessoa,

Mas prefiro ser Leminski.

Uns dias Bocage, outros Aleixo.

Passeando nos jardins de Sintra com Lord Byron,

Ou apanhando conchas na praia com Neruda.

Patriótico como Camões, crítico como Saramago.

Sou eu mesmo, tudo isto, e muito mais.

Todos os anos, todos os meses, todas as semanas, todos os dias.

Todas as horas, todos os minutos, todos os segundos.

Ontem, Hoje e amanhã.

Agora.

Ainda assim por vezes não sou nada.

CICLOS - OS PROFANOS DO TEMPO

Poema que encerra o epílogo do livro de ficção “OS PROFANOS DO TEMPO”

Rompi com o sonho impercetível e murmurado,
colocando apressadas palavras no relógio da vida.
Trepo ao céu, agarrado às letras e ao vento,
flutuando no espaço ao sabor da corrente.
Esperança ardente, sonho fugaz determinado,
ávido dos silêncios que a noite provida.
Em louca espiral da pressa! Isole-me no advento
que projeta todos os meus erros na minha mente….

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