morremos em vida quando nos impõem uma sociedade sem ordem e sem brilho; sem os claustros onde se reza contra a malignidade e a desventura; sem os perspicazes versos dos trovadores.
os meus bailados menosprezam as dádivas mundanas e as suas celebradas tradições através de conceitos que revogam as angústias supérfluas; através das quimeras que exponho à rotina das pessoas.
desdobro a minha existência em múltiplas fases: as lágrimas emergem do inicial estatuto de sofredor; a perseverança desagua numa pose austera que gera introspeção; as palestras versam a sublime liberdade.
suprimo os meus desaires emocionais quando integro na alma os poemas que vou redigindo: quando eles incidem na futilidade das afeições; quando eles se transportam nas ondas perfumadas da razão.
o recreio onde gracejam as palavras; onde as ideias se desdobram em riachos cristalinos; onde as sementes da poesia removem o desalento; onde a vida tem mais sabor porque redunda num oásis estruturado.
eu incendeio os preconceitos falidos para transmitir aos outros os meus desígnios febris; para recrudescer a esperança que instalo nos lugares que percorro; para sublimar os meus queixumes.
as utopias que eu inventei para apaziguar a minha rebelião... para irradiar os meus discursos benevolentes... para olvidar os meus fracassados intentos de me ajustar ao universo...
rejeito o amor quando ele é debilitado pela existência mundana; quando ele abrange os destemperados horizontes que trilhei; quando ele suporta os ventos da desgraça; quando ele origina insegurança e agressividade.
o desamor adensou-se nos lugares onde eu suportei as minhas frustrações; onde o meu sofrimento se agravou deixando cicatrizes duradoiras; onde sobrevivi afastado dos meus próprios ideais; onde desenredei os meus traumatismos.