Meditação

em mim

Suspendi o tempo que me pousou nas mãos

Ave livre sem destino nem porvir

Olhei nas águas lavradas do rio

O desassossego que me habita nos olhos

E sorri

Do peito brotaram-me flores em cacho

Com cheiro a terra e a musgo

Com cores que envergonharam o arco-íris

Estendi-me, dolente

Nas margens deste rio calado

E esperei a lua

Lânguida

Foi meu o mundo todo num momento

Em que desbravei um peito a arder

Senti-me em mim

De volta

E a minha gargalhada

Poema da página em branco

* * * *

Fito desolado o papel em branco...
Sem nada para ver,
Sem nada para sentir…

É duro querer escrever
E a palavra recusar-se a sair!...

Em abono da verdade,
Até a caneta parece estar sem vontade
De acorrer ao apelo do papel.

O cérebro não está cá
E todos os meus sentidos
Estão como que entorpecidos.

A boca áspera sabe a fel
E as pernas estão dormentes,
De tanto esperarem nada.

Até a música me deixa indiferente
Nesta tarde gentia,
Danada
De fria!

Se de nós o tudo sabemos tão pouco

«Se de nós o tudo sabemos tão pouco
Se dos outros o nada é tão feroz
Se da Vida queremos tanta Luz
Amar é sempre este risco
Esta intensa incerteza
De nunca saber os tons reais
Do fosco baço
Do entre-estar e Ser»

(RMP,
in Um Amor que vence Chronos)

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