os remorsos são como como víboras daninhas que impedem a minha evolução; como farpas que laceram o jeito aprazível da minha existência; como emboscadas que dificultam as minhas reflexões.
logro gerir a solidão através de versos que tonificam o meu destino nas catacumbas dum ócio planeado; no topo da montanha avulsa que eu retiro do núcleo da misantropia; nos locais harmoniosos onde reside a sapiência.
eu sempre me regerei pelas minhas intuições criativas; pelos meus pensamentos e pelos seus contextos genuínos; pelas minhas empreitadas corajosas que perseguem a ilustre poesia.
as páginas de pudor que redijo incluem os meus desatinos e as minhas máculas enrugadas; incluem o palavreado afinado sobre as minhas façanhas; e incluem a minha propensão para revolver o mundo e as suas crueldades execráveis.
na orla do oásis que inventei jazem os ditames severos dos meus ancestrais; jazem os efeitos perversos das minhas digressões mundanas; jazem os vultos daqueles que escarneceram de mim; jazem as confrarias da inveja que perturbaram a minha evolução.
luto contra as mágoas que se hospedam sobre a face viciada da devoção; contra as virtudes que se maquilham no pedestal da hipocrisia; contra as vivências implantadas no terminal duma esperança fracassada.
tanto faz
se o código genérico
não me confunde mais
se tento domar o vento
com as letras recortadas
de meu padecimento
se for mera quimera
o milagre dos peixes
e dos náuticos homens
se me resguardo
e perpasso o tempo
como um mago pirata
se trago a bordo
a âncora recolhida
de minha partida
sem nunca... nunca...
ter navegado a esmo
e me afogado à deriva
o legado da razão expulsa as lamúrias e os seus enlaces negativistas; instaura uma poesia que ultrapassa o mero ressurgir da esperança e dos seus amenos horizontes; briga contra os interditos e as máculas sociais.
retrocedo os anos da militância contra um sistema que pretendia introduzir-me num futuro que eu recusava: agora eu creio na poesia porque ela emoldura o meu destino; porque ela expurga a minha primitiva ingenuidade.