a concha entreaberta
Autor: António Tê Santos on Saturday, 1 July 2023a poesia torneia as mecânicas posturas para resgatar o seu criador; recolhe os seus juízos no altar da idealidade; neutraliza os preconceitos falidos da humana condição.
a poesia torneia as mecânicas posturas para resgatar o seu criador; recolhe os seus juízos no altar da idealidade; neutraliza os preconceitos falidos da humana condição.
a poesia expande-se no tablado da erudição quando transforma os nossos devaneios em relatos íntimos; ou quando desmorona a muralha das minhas vicissitudes estimulando os os nossos intentos jubilosos.
quando a vida me quebrantar eu serei um truão aturdido sobre um sepulcro prorrogado; sobre os loucuras que realizei na travessia dum pélago emocional; sobre as desilusões concentradas na floresta dos ressentimentos.
a lúgubre paisagem que vislumbro desde a meninice até ao dealbar da razão onde me inspirei nos tormentos que sofri; mas também onde germinou a minha liberdade quando me emancipei das amarras mundanas.
recordo-me de quando escurecia a alma com as minhas perturbações; de quando inventava melífluas paisagens para conseguir sobreviver; de quando garantia uma passagem breve para a morte.
sou daqueles que reproduzem as suas emoções; que transbordam uma alegria contraposta aos seus dislates prematuros; que renovam o ar que inspiram quando superam as suas adversidades.
valorizo tudo aquilo que conquistei na penumbra do meu ócio; nas catacumbas duma existência ressentida; no recrudescer da alegria implícita no meu versejar; na magnífica essência da minha solidão.
as fronteiras que transponho para fomentar um modo pacífico de viver... as imposturas que esclareço para banir quem penetra na minha aprazível solidão... as manobras que engendro para suprimir os meus pensamentos malvados...
a relevante evolução da poesia quando agasalha os nossos ideais; quando escorraça as comoções que nos atribulam; quando incide sobre os relatos sórdidos da nossa natureza; quando nos afasta das dúvidas metódicas que vai elucidando.
ecoam no meu pensamento os testemunhos do obscurantismo humano; a dimensão primitiva das suas contendas; os seus préstimos baldados para robustecerem as afeições; as crenças inúteis que inventam para mitigarem a sua brutalidade.