existem muitas metáforas por compor quando revogo as minhas brigas para desdizer os momentos turbulentos que suplantei: quando introduzo a clarividência nas estaladas que sofri para me poder analisar.
a vida perturba quando gruda nas almas o selo da hipocrisia; quando robustece o domínio daqueles que sufocam a benignidade; quando abriga os trâmites perversos que geram a solidão.
ensaio um roteiro
pelos ares soturnos
dos arredores
entre pegadas aflitas
que me norteiam
e me impelem à volúpia
de corcéis
me dirijo
aos píncaros altivos
e me prostro
sob a pele das nuvens
para desvendar o céu
através das cortinas
desse místico véu
confiro à minha missão uma essência genuína para que as minhas aspirações ultrapassem o mero coaxar da esperança e me transformem num homem sapiente; para que as divisas do meu ressurgimento se gravem na poesia.
quero imprimir versos que destoem da banalidade mundana; que enfrentem os símbolos do passado para os transverterem em metáforas inovadoras; que fujam aos estereótipos nocivos que desfiguram a poesia.
os versos que vou redigindo transparecem as náuseas duma vida dissoluta e as feridas duma vida perturbada, mas melhoram o ar que inspiro nas catacumbas dum ócio reabilitado.
escorraço a tristeza para consolidar a minha autonomia; para que a paisagem do desencanto se afaste do meu ânimo; para que a tenacidade do meu pensamento se imponha às fúteis desavenças humanas.
extraio da alma figurações que fragmentam a displicência e o abandono: elas têm prioridade sobre os modelos que me rodeiam e que arrebataram a minha candura; elas extinguem as máculas enrugadas que retiro da misantropia.
possuo a versatilidade do pensador que obliqua pelas intermitências das suas mágoas; que compõe uma poesia que jorra vereditos revoltados; que transporta a sua determinação pelas alamedas infindáveis da sabedoria.
separa-se o vôo
de seu pássaro só?
retira-se o caminho
de seu passo sóbrio?
afasta-se a chuva
de sua nuvem sólida?
aparta-se o ermo
de sua desolação sórdida?
