os cardos da memória
Autor: António Tê Santos on Sunday, 11 December 2022do juízo projeto ditames que remontam a escadaria dos meus desejos; que divulgam os meus protestos vigorosos; que transfiguram o meu sofrimento em narrativas resplendentes.
do juízo projeto ditames que remontam a escadaria dos meus desejos; que divulgam os meus protestos vigorosos; que transfiguram o meu sofrimento em narrativas resplendentes.
eu cedi às tentações com a obstinação dum poeta desprezado; com a perspicácia dum sábio que decifra as imposturas que o circundam; com a candura dum enfermo atestado de ressentimentos.
busco a verdade nesta existência pungente que confere o bem-estar àqueles que não possuem valores; àqueles que injetam a sua energia daninha nos labirintos dum júbilo fingido; àqueles que emagrecem a palavra erudição.
a virtude nobilita as nossas pujantes deliberações; obriga-nos a tornear os exageros que ocorrem nas nossas caminhadas agrestes; proporciona a detonação dos nossos fecundos ideais.
a angústia impulsionou-me para o teatro das configurações delituosas; depois para o vácuo onde a tristeza predomina; depois para o fulcro da solidão onde encontrei a poesia.
a erudição orienta as nossas deambulações quando nos obriga a entender o mundo e os seus alvoroços celerados; quando transfere para a nossa inteligência os seus corolários dominantes.
a poesia sangra os desafetos que caracterizaram a minha existência juvenil; os suplícios narrados pela minha alma ressentida; as minhas atuações extravagantes.
existe um lugar ávido onde dilacero o infortúnio sempre que escrevo poesia; onde tonifico o meu bem-estar; onde esclareço a sensibilidade através dum apurado raciocínio.
recordo as peripécias que acicataram o meu engenho e a minha determinação; que erigiram o tugúrio onde me defendi das intempéries; que transformaram as minhas reflexões em mensagens capitais.
a textura da amizade dirige o poeta até um bem-estar que o ludibria: ignora as suas vitórias sobre o temor e a perfídia; instala as suas emoções no palanque da candura para logo as dissolver no desencanto.