as palavras demoram-se nos lugares onde a necessidade alastra; onde a penúria desemboca numa veemente contestação; onde a malvadez resulta dum instável desenvolvimento humano; onde a violência serve para mitigar as nossas tormentosas preocupações.
recrio as palavras para as consagrar na tribuna da literatura; para as transverter num pleito aguçado contra os meus infortúnios; contra o rancor das pessoas desgraçadas; contra a consternação daqueles que impugnam as hostilidades abrangentes.
há palavras que se desnudam para escandalizarem o mundo; para que as suas provocações se mantenham intactas nos lugares onde avulta a extroversão humana; para que as suas atitudes ressaltem como despudoradas e ultrajantes.
as palavras radiantes saem dum eremitério para criticarem o mundo e as suas disputas vorazes; para se disporem no núcleo das nossas efusões fraternais; para usurparem o trono à fealdade que nos apoquenta.
o culto das palavras faz-se nos terrenos fecundados pela sapiência onde elas impulsionam o mundo com os seus avanços espirituais; com as suas fúlgidas redações; com os seus préstimos complacentes; com os seus juízos relevantes.
a fantasia que há nas palavras transcende as guerrilhas mundanas para se entranhar no coração dos indivíduos; para lhes atribuir o mérito das suas evoluções; para lhes conturbar a vida tristonha fundamentada na álgida estrutura que os rodeia.
há palavras que derivam da falsa liberdade que abunda nos homens; da arrogância inserida na nuvem plúmbea dos seus comportamentos; dos seus intuitos aleivosos que eles mascaram com rótulos sofisticados.
as palavras voejam para lá do horizonte numa demonstração de enorme liberdade: a sua sabedoria converte o mundo numa bola de cristal: num poema que cai sobre a urbe para a regenerar.
deixo que as palavras removam as minhas asperidades caloiras para as dissolverem nos seus intuitos benignos; que promovam o meu bem-estar através das ideias que sustentam; que transfiram os seus vestígios de ternura para o claustro onde habito.
as minhas palavras estão carregadas de alvoroçados dilemas que elas transportam até ao coração dos leitores para lhes inspirarem resolutas emancipações; e de lúcidos juízos que os advertem contra os falsos amplexos mundanos.