poemas da razão
Autor: António Tê Santos on Saturday, 28 May 2022rejeitemos a vida quando o seu linguarejar burocrático nos ludibria com os seus oásis redentores; ou quando a falua do amor naufraga pretendendo harmonizar o que é discrepante.
rejeitemos a vida quando o seu linguarejar burocrático nos ludibria com os seus oásis redentores; ou quando a falua do amor naufraga pretendendo harmonizar o que é discrepante.
deixo que os vocábulos sintonizem uma solidão que se prolongue até ao raiar da misantropia; e que introduzam na minha alma uma fulgência que pressuponha as viagens desalinhadas que efetuei.
trago na ideia os relatos da minha juventude quando entoo cantigas que investem contra a muralha dos antagonismos; quando amplio a liberdade deferida pela minha imaginação; quando apaziguo a minha existência sobressaltada.
os poemas escorregam pela lembrança com dádivas que celebram os míticos desejos do seu autor: conferem à sua vida derivações que espantam quando integram no seu seio relatos fascinantes; municiam a ambição que sai da concha dos seus méritos e se firma na sua inteligência.
a poesia treslouca quando reputa as utopias que descaem para a sórdida paisagem onde apascentam os energúmenos; a poesia enobrece quando desenrola os temas fecundos que flutuam no mar gélido das avaliações.
quando redijo estou no centro das minhas contusões e avalio-as nas voltas dolorosas pelo meu passado e pelas suas vulnerabilidades essenciais; ou projeto a inolvidável textura que me cinge quando aprofundo o global entendimento.
deslizo pelos meus pensamentos com tentáculos que engancham na miscelânea terrena; aprofundo a concórdia na gruta do meu ego transformando a agudeza em canções; procuro mensagens supremas que evoluam pela franja dos meus versos.
exorcizo os meus defeitos para rebelar-me contra os bramidos indecentes da vida; contra os recalques que abastecem as presunções que fluem para os canais túrgidos da desarmonia; contra a ligeireza dos juízos que desgrenham a bruta realidade.
as reflexões fluem como resguardos da nossa contundência quando presumem o cariz traiçoeiro do mundanismo e as suas nocividades habituais; quando se introduzem nos lugares quezilentos para alegrarem a nossa desconsolada condição.
flutuo sobre a minha vida para analisar uma era inconsequente com profunda lucidez; e reclamo contra as quezílias e contra o medo para transmover o meu fulgor para as redondezas da solidão.