uma flor no descampado
Autor: António Tê Santos on Friday, 30 August 2024transferi os fardos da minha existência para um monturo com profusa comoção: foram dias e dias dum sofrimento banal; foram numerosas peripécias que eu abjurei.
transferi os fardos da minha existência para um monturo com profusa comoção: foram dias e dias dum sofrimento banal; foram numerosas peripécias que eu abjurei.
deixo que as palavras sintonizem as amarguras para depois as temperar com os êxitos recentes; com as aptidões despertas por uma grande maturidade; com as marcas duradoiras dum poeta renovado.
as lágrimas embaraçosas que eu suprimi quando despertei para a razão... para a imensa agudeza que me permite compreender os enigmas da vida... para as doutrinas fulgentes que me transportam para um sublime lugar...
potencio as minhas análises através dos obstáculos que superei; transponho para a alma as conquistas que consegui; desprezo as trovas de amor que oiço nos lugares mundanais; entorpeço as mágoas no refúgio da poesia.
ergo as vigas da liberdade após me livrar dos enlaces malogrados; após adquirir os calos da experiência; após dissolver as máculas e os sobressaltos; após excitar as reflexões através duma concisa poesia.
os poemas lacrimados de outrora têm agora os selos da galhardia e do espanto perante a vasteza da minha liberdade: os seus pensamentos sobrevoam os mastros duma nau grandiosa: alagam florestas ignoradas onde dilatam o meu carisma emocional.
explode o raciocínio na penumbra onde me situo porque eu reneguei os meus impulsos fatais: agora nutro um êxtase que robustece a minha atual compleição; agora possuo garras aguçadas que escoriam as sociedades.
nutro um grande interesse pelas notícias que divulgam a acritude das pessoas revoltadas: elas vagueiam pelas tubagens que as levam à morte numa cadência frenética motivada pelo desespero; numa catarse que as abrange quando sobem os degraus da extrema violência.
a benevolência da alma situa-se longe desta vida dissonante onde se silenciam os manifestos do quadro tétrico das nossas vidas; onde não se calculam os danos que emergem das nossas petulantes atuações; onde não se expurga a malvadez que prolifera no cortejo humano
quando a náusea de viver me açoita eu obliquo para os trilhos da sapiência onde potencio os meus versos fecundos; onde invento uma festa espantosa até retumbar a minha alegria; onde seco as lágrimas persuadido pela minha razão.