as injúrias estão incrustadas no meu pensamento para que eu usufrua dum diálogo secreto com elas; para que as notifique sobre as suas danosas intenções; para que as possa esbater através das ondas transparentes da minha poesia.
guardo as reprimendas da infância num frasco para poder analisá-las: porque as crueldades maternais me obrigam a divulgar as minhas angústias; porque intento corrigir os eventos traumáticos a que sobrevivi.
as vozes que me atravancam a razão sofreiam os meus intentos benignos; ofendem a minha poesia para causarem tristeza e desencanto; para denegrirem o meu caminho e abalarem as minhas gratas emoções.
as paixões que experiencio quando percorro os corredores da sabedoria... os famigerados terrenos da literatura... os autores ilustrados que me consentem penetrar no império da razão... os alvoroços da vida quando enriquecem a minha poesia...
emito preces que suplicam a alegria de viver para neutralizar o meu desespero; para absorver as dádivas que arrecadei nos palácios que construí sobre os desertos da vida; para olvidar os meus descaminhos pungentes.
a fúlgida razão avança por terrenos lavrados subjugando a malvadez e os desarmónicos horizontes que ela provoca; os garrotes intemporais do seu entendimento; os seus motejos ofensivos.
o recheio da virtude está distante das nossas vidas quando as hostilidades exaltam os ânimos recalcados; quando a sombra do medo rodeia os homens vacilantes; quando há nódoas a enfeitar a camiseta da ilustre liberdade.
atento nas serenatas que ilustram os caminhos da fama, nos clamores dos homens que teimam na vida mundana e nos ínvios terrenos onde a morte se mascara para poder dissecar os meus insucessos e as minhas contusões.
reflito nas causas dos homens de bem; nas exteriorizações saudáveis do meu pranto; na forma ágil como serpenteio por entre as emboscadas da multidão; nos poemas fecundos que vou redigindo.
procuro na poesia os indícios que me convêm para elaborar as minhas dissertações; para corroer o geral entendimento e os seus dísticos capciosos; para contornar as máculas envernizadas que a vida produz.