Meditação

A TOADA MARGINAL

a víbora é entronizada no matagal da solidão.

 

as palavras de hoje sobem todos os degraus avaliando as lecionações.

 

a tarefa de retirar a esperança do cofre da misantropia.

 

as palavras que o machado corta no cerne de conflitos impostergáveis.

 

o pudor regateia nos antípodas duma vida tumultuosa.

TELHADOS ALGÉBRICOS

os sacrifícios estimulantes que introduzem na linguagem convicções permanentes.

 

as páginas descabeladas e arredias são tingidas pelos rumores que engelham a solidão.

 

sobre fragas derribadas os homens devem alterar o seu pensamento.

 

os meus aguilhões cravam-se naqueles que se extraviam na parada dos costumes.

 

a saudade une-se à pobreza para trinar cantigas exaradas pela dor.

REGATOS SINUOSOS

entumecem os rótulos produzidos pela desgraça humana.

 

há sucessos imergidos pelos engodos da alma popular.

 

disfarça-se a náusea com guardanapos no restaurante da idolatria.

 

nenhum orador discursa sobre os itinerários flutuantes da morte.

 

filtro clarividências para quem se encontra num charco pestilencial.

O TIMBRE PARDACENTO

o chão gorduroso da monotonia aonde recolho coisas banais.

 

desloco-me sobre um elefante solidário quando um afeto imenso perfura o dom da razão.

 

o hino à uniformização num hemisfério caldeado por ações estrídulas e inconsequentes.

 

há poemas só percebidos por quem saiba resolver equações caprichosas.

 

o poema estende-se pela sombra duma guerra onde pululam garças desvalidas e lobos agiotas.

O CLARÃO ÉTICO

eternizam-se as desilusões daqueles que enfezam em calabouços invisíveis.

 

os debutantes oferecem flores à gente envelhecida digerindo assim as palestras da modernidade.

 

a imaginação suporta a ansiedade desatada pelo ócio.

 

a inconsciência manifesta maneiras artísticas de protestar.

 

piso o chão concreto onde se coordena a malvadez.

O USURÁRIO MALDITO

quando a razão não suporta ver os cânticos estropiados pelas bestas.

 

há serpentes deslizando entre as flores imaculadas dum jardim madrigalesco.

 

insiro numa alma coletiva as palavras que oiço à mesa do café.

 

agito clavas na vizinhança duma terminologia façanhuda.

 

extraio felicidade dum regaço que só existe na minha imaginação.

 

 

A MÁGICA COMPOSTURA

as agruras da solidão incharam o itinerário da indisciplina.

 

os acontecimentos que atiro ao rio numa trouxa lacerada.

 

há um esgrimir vático que desencaracola as emoções.

 

as crianças aprendem as novidades que as fraudes alardeiam.

 

aqueles que transformam as arteirices em borbotos da progressão.

UM TRAJETO PENETRANTE

a lágrima afoga a morte ao liderar as congregações do encantamento.

 

o rol de acusações que se apuram em querelas escavas intentando expulsar a sensaboria.

 

a vaidade é luxada em momentos solenes entre copos deploráveis e indigestões perfumadas.

 

as palavras apaziguam os pungimentos impelindo as ondulações dos egos pelo ramal da interpretação.

 

há vocábulos que extirpam os estertores dirigindo-se ao tablado da originalidade.

ORDENAÇÕES POÉTICAS

a respeitável vinculação dos mares aos energúmenos que os unificaram.

 

a esperança é um traste que a malvadez vai carcomendo.

 

dos orifícios do saber remontam benefícios imateriais.

 

existem guerrilheiros contrafeitos reunidos a projetos fantasistas.

 

a grosseria dos homens que se atolam nos seus próprios excrementos.

PALAVRAS CONVERGENTES

o visceral discernimento que me perturba quando o sobreponho à realidade.

 

a hipocrisia ingressa nos devaneios que se cumulam no labor diário das pessoas.

 

a raiva sobre o tampo da mesa desconjuntada reforça práticas antiquadas e inúteis.

 

as noções são vertidas para uma tina e mobilizadas pelo que é prejudicial.

 

a evolução transparecida por um arquiteto e minorada pela poesia sacrificial.

 

 

 

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