Prosa Poética

Conficções

Do tempo quero somente
 
que me despojes deste corpo
 
que te invade
 
Ser o esteio numa promessa
 
que não se cumpre
 
soprando nos dias teu
 
palato com gosto de sonho
 
sonhando devagarinho
 
insuflado de paixão
 
ao colo do teu leito marinho
 
 
 
Do tempo restam
 

Além da luz

Soletrei teu nome
 
à luz extinta da noite
 
num poema quase mudo
 
brotando na existência de um eco
 
luzindo inesgotável no tempo
 
 
 
Meditei no interior
 
desta rima arquitectada na
 
maturidade de um beijo
 
suculento
 
testemunhando a face
 
luzidia onde se dissipam
 

Da noite...ao silêncio

És o sonho atiçado
 
onde me aqueço
 
num fogo aconchegante
 
abrasado
 
És o tempo que se esvai
 
qual carrasco pelos ventos
 
andante
 
num altar dos meus prantos
 
dilacerado
 
 
Desta noite que se espreguiça
 
errante
 
ainda sei como te suspiro
 
profano

Perfeito silêncio

Vou deixar quieto
 
o meu silêncio
 
Contentar-me em alegrar a fachada
 
onde deposito plenas gargalhadas
 
embrulhadas no tempo perfeito
 
quando enfeito todas as calmarias
 
debruçadas na ténue luz da manhã
 
que respira escaldando minh’alma
 
escancarada
 
no páteo de tuas cantarias
 
 

Culpado ou inocente

São ternas as noites
e longas as insónias
que fotografo na moldura
de um raio de sol adormecido
entre madrugadas tecidas
em vagas de solidão mareando
o tempo com candura
 
 
- Apetece-me só
permanecer entre teu regaço
imigrando nos alados beijos
que me deixaste em recato
 
- Este é só meu jeito
de dizer
como mergulho nessa luz
abraçando-te num soberbo

Voltar no tempo

Decifra-me se puderes
 
encontra-me neste poema
 
tantas vezes reescrito
 
onde mergulho cada palavra
 
no tempo infiel e proscrito
 
 
Reserva-me todos os murmúrios
 
onde transformamos gargalhadas
 
em versos de prazer inédito
 
alimentando o sinédrio dos meus
 
juízos tão itinerários e frenéticos
 
 

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