Prosa Poética

Travas

Há travas nas lembranças
E o que sobra realmente para o hoje
E o lamento desesperado
Sem dias marcados
Em ter a preocupação preciosa
Dos piões, balões,
Toda colorida papagaiada que preenchiam o azul do céu
Cadê o carrinho que arranhava o asfalto
Em quatro rodas cromadas
Cadê as bolinhas de gude elegantes
Meus parentes que só nas fotos encontro,
Ficaram emudecidos com o tempo
Não se despediram ?
Se trancaram na memória de Deus
Com muitas fechaduras.
Trancas ocultas...

Ressurreição

Eu não irei voltar! Não volto ao refúgio carnal que de seu asilo trancafiou-me. Quase um século de volúpia contra meu prazer, cativando a soberba do ego; décadas de ignomínia sob o solo dos ratos beirando minha masmorra. Bastardos do rei, poderoso rei, vilipendiou-me nas frestas da esperança, quando vosso austero coração derretia conforme o batimento de teu filho queimava na peremptória piedade não atendida. Afogado pelo sangue opressivo que cachoava, infelizmente, meu funesto corpo; o mar vermelho de minhas entranhas banha o sol como a vertigem de marte.

Peixe

Eu conheço bem a amargura
condutora lacrimal
é a salinidade da vida!
Um par de botas desgastadas
Obriga a rota repensar
Rio particular , meu aquário ,
Não ensina
Os atalhos da luz.
Conhecer a dor
Dentro e fora deste casulo
Um pinguinho de bem
Distante da amargura lacrimais .
Conheço o sal destes dias!
Recordo a criança
E seu mundo sem abalos.
Era assim, antes das botas desgastadas
De percorrer léguas ciganas
Havia felicidade
Na vida de aprendiz.

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