Prosa Poética

É

É ver o circo pegar fogo.
É um composto religioso.
É viver e esquecer que este mar é grandioso.
É saber que muita coisa na vida é demagogo.
Homem carnal que torna o
Espírito santo criminoso
Ardiloso e sem diálogo
É viver sempre a pé
De modo danoso
Com o maltratado povo.
Tem irmão que não é caridoso.
Santificado é o teu grande nome.
Mas o homem também é criminoso .
Via Crucis também hoje ,
Matam sonhos a todo instante
O que diria Gandhi,
No meio desta gente

Frio bravio

Um frio bravio veste a manhã tiritando inconfortável
Cheia de injúrias a solidão arrefece quase descartável
O tempo esse hiberna pra sempre irremediavelmente inexorável
 
Num ápice encarceram-se além vagos silêncios imutáveis
Cada hora ainda desagasalhada cai inerte num pranto inexplicável

Vai à janela...

Vai à janela e vê a manhã despir todos os derradeiros
Breus insolentes, frenéticos, absurdamente apopléticos
Vê como ela se empoleira em tantos afagos energéticos
 
Vai à janela e descobre como o dia vasculha a solidão mais
Lânguida, a tristeza quase sonâmbula, a ilusão mais iludida

ASAS DE DENTRO

Um passarinho pousou
Num galho daquela árvore
Olhava em seu redor
Chilreando e debicando
Entre folhagens de cor

Ouviu um leve ranger
Começou a perceber
A fragilidade do ramo

A confiança inata
Nas asas de que era dono
Ofuscava-lhe o medo
Cruzava-se com a coragem
Passando assim a mensagem
Que dependendo do sítio
Ou do meio envolvente
O poder de levantar
Parte de dentro da gente.

Emília Lamas

EXPOSIÇÃO

O pintor.
O artista que, delicadamente, foi dando forma, sentido e cor às suas obras.
Após um bom número de telas Escolhe as melhores entre elas E cria uma exposição.
Abre as portas ao público
E cheio de emoção, aguarda a opinião de cada apreciador.
Surge felicitação e depreciação.
Assim é a exposição.
As felicitações que vou recebendo
Vou eternizando com alegria.
As depreciações que surgirem
Vou guardá-las no anexo dos fundos
E com elas fazer poesia.

Emilia Lamas

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