Prosa Poética

Entre a Janela e a Porta

Entre a janela e a porta, mais de vinte e três anos se passaram. Anos de cigarro e vento, de insônia e prazer, quase nada sem arrependimento. Cada passo entre a porta à janela agora é mais fácil. Já fui mais fechado ao azul e ao violáceo. Outra janela, essa outra mais cheia de vida, tantas e tantas vezes pesou nos olhos a vontade da fantasia. Entre a janela e a porta, só o longe é possível. Estar entre a janela e a porta é usar os detalhes para preservar a miudeza da minha feiura irreparável. Vinte e três passos contidos. 

Banquete da solidão

Uma alucinante e anárquica solidão flertou cada hora
Que além desgastada, dormita sobre os escombros do
Tempo tão senil, tão envelhecido e quase, quase escarnecido
 
Numa barafunda de palavras escrevinho meus versos que
Farram numa alquimia de lamentos tão crápulas e desconcertados
Perpassam com afinco os mais espalhafatosos sonhos tão asfixiados
 
Assim se banqueteia o tempo numa patuscada de uivos e urros escavacados

Que me importa...

Que importa se a noite na sua coscuvilhice se intrigue
Com esta solidão matreira, tão indiscreta e leviana
E trame uma daquelas tramóias fuxiquentas e insanas
 
Que importa se a luz se desnude numa querela de breus
Intrometidos na urdidura dos silêncios alcoviteiros e profanos
E nós dois intrigados nos entreguemos num bailado de afagos ufanos
 
Que importa…pois que importa, se na saudade eu ainda
Engendre uma lânguida e trafulhenta memória tão sedenta

Penumbras

Na penumbra do dia flutua a luz envergonhada e lacónica
Sutura todas as feridas que brotam de uma prece canónica
Num subtil minuto a manhã emborca cada palavra mais icónica
 
Pelas penumbras da solidão almofada-se um afago truculento
Impelente e propulsor cada eco sedimenta minhas ânsias opulentas
Alimenta a mais nítida e translúcida luminescência quase rabugenta
 
Impelido por um espalmado silêncio adita-se à solidão um verso perspícuo

New Life(nova vida)

Claudica o tempo emaranhado num segundo tão empírico
Dei um sonífero à solidão para que esta adormecesse pousada
No dorso de todos os lamentos profanados, quase quase degradados
 
Na aldeia dos meus silêncios escuto o timbre de cada sussurro enamorado
Escovo a cabeleira das palavras onde se penteia o dia sereno e imaculado
Assim me lambuzo com brisas regurgitadas por um poente mágico e exaltado
 
Nova vida será aquela que, sem desacatos romperá clonando e plagiando as

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