Prosa Poética

ASAS DE DENTRO

Um passarinho pousou
Num galho daquela árvore
Olhava em seu redor
Chilreando e debicando
Entre folhagens de cor

Ouviu um leve ranger
Começou a perceber
A fragilidade do ramo

A confiança inata
Nas asas de que era dono
Ofuscava-lhe o medo
Cruzava-se com a coragem
Passando assim a mensagem
Que dependendo do sítio
Ou do meio envolvente
O poder de levantar
Parte de dentro da gente.

Emília Lamas

EXPOSIÇÃO

O pintor.
O artista que, delicadamente, foi dando forma, sentido e cor às suas obras.
Após um bom número de telas Escolhe as melhores entre elas E cria uma exposição.
Abre as portas ao público
E cheio de emoção, aguarda a opinião de cada apreciador.
Surge felicitação e depreciação.
Assim é a exposição.
As felicitações que vou recebendo
Vou eternizando com alegria.
As depreciações que surgirem
Vou guardá-las no anexo dos fundos
E com elas fazer poesia.

Emilia Lamas

Sudário dos silêncios

Adormece a noite aconchegada ao altar da solidão
Enquanto rendida viceja uma emoção tão submissa
No labirinto da vida amordaça-se a luz mais movediça
 
Envolta no sudário dos silêncios a escuridão mumificada
Esboroa-se qual lamento tristonho e intimidante, até deixar

FORÇA

FORÇA

Nasce o sol
Nasce a lua
Nascem plantas bravias
Nascem flores encantadoras
Nascem pássaros e melodias

A Natureza é uma força
De grandeza inconfundível

O Homem também tem força
E com força acredita
Que a força nele existente
Fa-lo-á ser persistente
Pode até deambular
Mas se a força o desejar
Não saberá rejeitar
A direção do caminho.

Emília Lamas

Silêncio sem nexo

Sem nexo o silêncio hibernou no tempo quase estilhaçado
Não existe cura para aquele eco que feneceu tão mediático
Jaz ali, abandonado no mausoléu dos lamentos mais fanáticos
 
Um incoercível olhar enigmático flui pelo corrimão das
Palavras inconformadas, indivisíveis e alucinadas, deixando

Gostaria de ser Dom Quixote

Não muda o único devaneio
Aliados cordeiro deste amor,
sarcástico ou profano?
Será reciproco ou de engano ?
Mas,desbotou o mundo que era de arco-íris.
E tem uma voz que se desmancha e adverte:
-Não se entregue ainda amigo.
Às vezes gostariam de ser personagens de Cervantes
O amor que morreu é batalhou.
Presente e atualizando o tempo,
Há quem brinde a tantos amores,
A segunda vista, cristais inquebráveis.
Serão dedicados a camaleões?
São tantas emoções?
Seres humanos belos de beleza repentina

Do mundo anda

Hoje não se engana ninguém.
nem criança ou neném
Elas são verdadeiras
Dizem com sinceridade e de primeira.
E difícil desviar os ouvidos
Frases e balbucios de amor
O olhar frágil, dor e gemidos
Os homens esquecem da primeira e única lição:
O céu não é o limite nem aliado partidário
O chão não é feito de algodão
peguemos sim, e calcemos todos
As sandálias dos humilhados
Não aos rifles nem as cruzadas
Muito menos as medalhas
De puro plástico,
Pouco se vive com o salário

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