Prosa Poética

Paranoia

Eu me sinto vigiado a toda hora, os carros, as nuvens, os celulares, tudo é motivo de desconfiança. Os urubus voam sobre mim, desmentindo qualquer fim. A cada batida de asa me enlouquecendo, mais certeza tenho sobre como sou o escolhido. A paranoia namora a esquizofrenia, e eu sou o amante delas. Sinto fantasmas olhando meus erros. Vejo minha tela de dentro recebendo suas sinapses, e até disso desconfio.

Complexo de Caim

Estamos na era da recompensa, recebendo agrados por nada. O hedonismo como ordem é a nova perspectiva moderna. Estamos indiferentes, uma desordem generalizada. Afirmo sem receio que nossa sociedade venera o thelemismo: façamos o que queremos e o todo é lei. Após a ruptura com a moral e a metafísica, nos sentimos deuses da própria história. Talvez sejamos, mas temos algo mais intrínseco: o complexo de Caim.

Sem compaixão

Estou convicto seguindo o corolário da passagem. Pessoas vêm e vão como estações, e para quem é fraco, perde-se nessa temporalidade. As dores são inevitáveis, dizer que não dói lhe faz um dissimulado qualquer; porém, reconhecendo pessoas e coisas nessa roda como um ciclo na qual o homem permeia só, a sabedoria naturalmente se expande. O Dharma é de uma ordem perfeita, nada pode ser comparado ao caminho único de cada ente, nem mesmo o amor ou a morte.
 

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