Prosa Poética

Preconceito

Um dos temas que me despertam o interesse é o preconceito. A natureza humana é curiosa, usamos de artifícios baseados em sua própria primazia para justificarmos nossas mazelas. Escravizamos o outro em nome de uma abstrata nobreza racial. Os colonizadores tinham sobre a ótica do mundo uma lupa, e essa lupa enxergava o outro como formiga, não só enxergava como a exauria com a ‘’luz da razão’’. O pretexto racionalista levou o homem tão romantizado pelas poesias e eras de ouro a cometer pérfidas atrocidades.

E no meio de tanta gente...

Silêncio e tanta gente, esquecida numa multidão de ecos imprecisos
Uma rima castrada apunhalada por silêncios macabros e narcisos
Ver esfumar-se na fronteira do tempo sessenta segundos tão indecisos
 
E no meio de tanta gente queda e muda, espatifam-se palavras moribundas
Deambulam pelo calabouço das horas impreterivelmente furibundas
Improvisam a indigência das memórias agrilhoadas às noites tão vagabundas
 
FC

Ressuscita-me o silêncio

para sempre Gal
 
Entre complacentes murmúrios o tempo crepita flamejante e altruísta
Encurva-se saudando a manhã que desperta tão saudosa e reformista
Ressuscita-me este silêncio incrustado no parapeito das preces imprevistas
 
Qual bálsamo transcendente duas brisas perfumam essa voz tão pacifista
Na infinita metamorfose de luz fecunda-se um adeus sereno e coreografista
Assim se apascenta cada hora esvoaçando algemada a um sussurro calculista
 

Nas profundezas de um instante

No vasto abismo de silêncios hibernam sussurros tão prolépticos
São como latidos de um eco tão irreverentemente esquiço e epilético
O defenestrar de cada gota oceânica fluindo no algeroz dos uivos herméticos
 
Num instante cada instante colapsa incógnito efémero e complacente
Açucara a tempestade de palavras tão intemporais e prepotentes
Desenha o periélio de cumplicidades amarando entre maresias reverentes
 
Frederico de Castro

andanças suburbanas

ANDANÇAS SUBURBANAS
Luiz Silva
(...)
Sessenta e nove chegou,
Nos mudamos novamente,
Para o bairro Bela vista
(Guardo tudo aqui na mente),
A casa na Humberto Monte,
Érico Mota de frente.
(...)
Foi numa noite de julho
Que Papai nos avisou:
"Vou à casa de um amigo
Ver o que se anunciou -
O homem vai chegar à Lua!"
Papai foi, não me levou!
 
Na época estava no auge

um quarto de tempo

Um quarto de tempo
 
Uma porta de madeira maciça flutua entre meu quarto e a cidade 
Sobre o vão vejo a ponte, ponte que divide meu quarto e a cidade 
Quatro grandes dobradiças de bronze move a porta 
Uma faz som de dor outra de amor as outra duas se dobram apenas
Prefiro fechá-la e fugir do tumulto desta cidade furtiva 
A porta me trava como um cofre, mesmo assim esculto um som distante de um carro que corre alucinado seu som varre quilômetros 

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