Soneto

TU QUE VAIS A PÉ POR SOBRE O FOGO EM TUA FAZENDA

Tu que vais a pé por sobre o fogo em tua fazenda
Com teus passos de menina sob pernas de mulher
Tu que não tens nada e ainda assim tens o que quer
Não conhece então fronteiras e nem nada que lhe prenda

Tu que com teu verbo faz o dia então chover
Pra regar a flor silvestre que floresce na tua senda
Tu que não conheces poesia que lhe adenda
Bem lhe digo que é verdade tudo o que não possa ver

UMA LINHA PRA ESQUECER TUDO O QUE FORA PROMETIDO

Uma linha pra esquecer tudo o que fora prometido
Duas linhas e te digo o que me vale importância
Na terça linha se dá forma ao que reflete relevância
Mas a quarta se desmente no que em si está contido

Cinco linhas e começa, mas ainda em relutância
A sexta linha então se conta em tudo o que mantém sustido
Sete linhas, sete folhas, e um verso reprimido
Oito linhas então cantam no cair de uma tendência

CAVALEIRO DE LUZ E DE SOL

Cavaleiro em seu cavalo, cavalgando a luz solar
Com sua capa reluzente e seu escudo de ouro feito
Seu cabelo louro ao vento e seu amor bem preso ao peito
Sua armadura cintilante que chameja pelo ar

Sua vida em sua mão e seu destino bem aceito
Sua angústia em seu passado sua memória em seu lar
Todo o medo do futuro afogado pelo mar
Cavaleiro em seu cavalo como ao mundo fora feito

DOS MARES REVOLTOS E O QUE LHES PODE REVOLTAR

Advenha teu perfume como chuvas sobre o mar
Cada pétala de vida sustentada em forma vil
Com a vida dessa terra que tão grata lhe pariu
E lhe encara com a ternura de quem pode lhe amar

Sobreponha à tua essência toda a tua intenção
E lhe talhe com formigas o que dá o ar da graça
E então vaze o teu sangue enfeitando toda a praça
E que se volte à nobre terra o que lhe bate o coração

NADA O QUE DIZER, APENAS NADA O QUE DIZER

Nada o que dizer, apenas nada o que dizer
Sem fronteiras, sem legados, sem vontade e sem tortura
Sem desejos por cumprir, sem carinho e sem ternura
Nada o que dizer, apenas nada o que dizer

Na verdade o dia passa no acalento do seguro
E o que um dia fora claro ora nos deixa no escuro
Todo o chão que era muito ora é perto e tão distante
Tudo que fora odiado ora é o teu melhor amante

A SAGRADA TERRA DAS PAIXÕES

Bela senhorita de vestido reluzente

A valsar por sobre a grama de desejo e de verdade

Tua cintura ora me leva para além de mia vontade

E me faz de tua boca ser o mais sincero crente

 

Minha dama de ouro feita e da mais pura vaidade

Tua certeza me convence e me torna condizente

O teu mundo ora me guia e me faz ser tão contente

Que às vezes, quase sempre, eu me retrato a realidade

 

Nesse mundo paralelo onde nada mais se diz

Onde flores são insetos e a terra não é nada

O NECESSÁRIO FAZ-SE TOLO SE PRECISO FOR

O necessário faz-se tolo se preciso for
E as palavras comedidas podem sim poetizar
Quando é preciso há muita sorte no que for de seu azar
O que é vago faz-se pleno se repleto de amor

O que é mentira faz-se crer quando for dito com paixão
O que floresce também morre quando chega ao seu outono
O que é livre não conhece os poderes de seu dono
O que é concreto também dança se tiver inspiração

Cidade feiticeira! ( A minha cidade)

              Cidade feiticeira

 

 Se a natureza quis expor primor,

  Com dias luminosos...cristalinos,

  Noites de misteriosas neblinas,

   Foi aqui, nesta cidade d'amor.

 

  À borda do rio de correr vadio,

  A brisa refresca...atiça paixões !

  Brota sedução... Criam-se ilusões !

  Ecoam suspiros...ais...d'amor sadio.

 

  Mas é chegado ao mar que o belo se exalta !

  Quando por fim, o sol vai declinando

  E o mar, uma canção rumorejando !

 

DO QUE LHE SUSSURRA MEU SILÊNCIO

Em meus sentidos mais ocultos lhe proponho algo de mais

Algo de rosa a florescer em meio à densa luz da lua

Algo tão grande como a terra a vislumbrar a voz que é tua

E que com ímpar atitude canta valsas naturais

 

Em minha forma de criar a minha filha que flutua

Com meus ditos inaudíveis em verdades irreais

A tua imagem é concreta em tuas vertigens cereais

Que florescem e amaduram entre a tua pele nua

 

Se fizesse eu lhe tomasse por um copo de veneno

Que dilata a minha forma, mas dá força e dá vigor

Quimera dos desejos

Ah! Pudesse eu desfrutar a doçura
Da tua pele em minhas mãos
E do teu coração a frescura
No sussurrar de sonhos vãos!

Ah! Pudesse eu tecer um véu de ternura
Tão fino como da areia os grãos
E cobrir a tua alma numa noite escura
Atando-te em meus braços sãos!

Ah! Pudesse eu beber teus beijos
Como água deleitosa e pura
E derreter na tua chama os meus desejos!

Ah! Pudesse eu sentir na cintura
O calor e a firmeza das tuas mãos
Na quimera da minha loucura!

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