Murmúrios

nos murmúrios das estrelas está contido o amor

no novelo dos dias que vamos enrolando cuidadosamente

há uma atração fatal que se desenha

o fim do princípio

o meio de vários fins

há grandes encontros nas explosões de cor

o novelo enrola-se e não tem fim, a vida vai-se tecendo,

o que parecem pequenos bocados de fio, incoerência aparente

Olhar

Subo as escadas de um tempo que não chora, apenas é. Um ponto no horizonte reflete a luz de um caminho percorrido. Há gestos que permanecem na memória daquilo que é apenas sonho. Fecho os olhos por instantes e sonho que sonho, vibro no azul do céu e do mar, a natureza e o ser, simbiose perfeita, enrolada nas ondas do pensamento que se fixa no olhar que não é, no olhar que vem de dentro, na suavidade das nuvens de algodão, cujo branco contrasta com o dourado do sol. Assim é, assim foi e assim será.

Irrealismos

É no irreal que se sente o que não está, na invisibilidade, a alma é livre, a cristalização da natureza morta coloca o infinito nas asas do desejo, vôo que vôo, sinto que sinto, milhões de partículas quânticas levam o pensamento para longe, lá onde não se vê para contar, mas a liberdade, essa, nunca desaparece.

No sorriso

No sorriso, a leveza eleva-se, é o espírito que tenta emanar e dar luz ao mundo.

É na elegância que o belo se manifesta, na cor que aquece a alma. Um único movimento cria a ilusão do prazer de viver. Ser livre, é essa a manifestação do ser, não do ter, ser sempre feliz, sorrindo.  

Do amor

eis que do nada surgem as formas do teu corpo,

que são as formas do sagrado, do sacramental,

olho para o teu rosto e só vejo perfeição

deixas-me em completo êxtase e todos os meus sentidos ficam alerta

 
dentro de mim nas minhas veias corre sangue velozmente

de tal forma que o meu coração quase salta de mim

Viagens

em todos estes anos tinha-o procurado em todos os lugares, em silêncio

fizera viagens em solidão, nessa busca incessante de o ver outra vez

tinha desistido quando o seu coração lhe dissera que não era esse o seu caminho

mas ele apareceu, incrivelmente belo, e num instante o mundo estremeceu e parou

A invisibilidade do feliz

nas horas vagas percorro caminhos imensos onde o caminho é apenas isso, um caminho, as reflexões essas deixo-as para depois, para quando a memória e a vontade me deixarem materializá-las em palavras. enquanto percorro esses caminhos na minha secreta viagem, vou atendendo aos pormenores, aos pequenos detalhes do quotidiano, porque tudo é viagem, tudo é estar no ser. atenho-me em cada ponto do horizonte inacabado, e encontro o sacramental, o sagrado, o profano, a viragem do meu azimute.

Ilogismo

que é do fio condutor quando se parte, talvez matéria talvez arte...

profundamente se ligam os elementos mais sólidos que no universo existem, sobrevivem ao calor e ao frio, como se do nada viessem

as partículas de sol brilham no escuro, a lua brilha no claro

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