a admirável metamorfose
Autor: António Tê Santos on Saturday, 14 January 2017as inventivas explicam os laivos duma angústia, as grosserias exacerbando os pleitos que conduzem a caravela pelo itinerário das desafeições.
as inventivas explicam os laivos duma angústia, as grosserias exacerbando os pleitos que conduzem a caravela pelo itinerário das desafeições.
Quem diria que o fim retornaria ao início
De uma lição outrora ignorada
E que na aprendizagem virasse princípio
De uma visão agora aprimorada...
Quem diria que na razão residia o abismo
Dos sonhos reestruturados pela vida,
Que seria levada pelo absentismo
De uma ausência na presença retida...
Quem diria... que enquanto te segurava, te perdia...
Sem querer, em ti me revia,
E esquecia os sonhos que eram meus.
há tréguas que matizam este existir sangrento, versos que animam as danças inseridas nos catálogos das gentes, tópicos que poisam no tejadilho das desgraças dando-lhes consistência e exaltação.
Nesta sociedade hipócrita que sempre recusou,
A realidade de alguns que nunca tiveram nada.
Uma necessidade incendiada porque quem a queimou.
Um história esquecida, omitida ou alterada.
Eu sou quem eu sou, ação ou palavra,
Herdei do meu avô esta vontade de cantá-la.
Eu sou a voz infindável, garra imparável, a mão coberta de terra enquanto a escavava.
Eu sou cada dádiva, eu sou cada lágrima, eu sou a paz, a guerra, eu sou a raiva.
Sou a falta de sono, sou aquele que não esquece,
Ás vezes sou o frio que a noite te arreferece,
Na arrecadação da minha memória,
empoeiradas prateleiras
de livros com a história
de um passado que merecia o presente.
Rasgo a sombra.
Entro na luz
e viajo abraçada
a mim.
Esfolo a pele.
Arranco o cabelo.
Despersonificada a minha alma,
ergo-me num lugar onde uma sombra progride sem que os afetos alisem os alvoroços de raiz porque há formações que inovam as regras dirigindo o labor de serpentes caprichosas.
Dor,
Não pode ser dominada,
Não pode ser contida,
Mas pode ser escrita.