Desabafo

Sou um homem sozinho,

Sobrevivo abandonado.

Levaram-me o amor,

Deixaram-me a saudade!

 

Nada me incomoda, já nada me fascina,

 Espanto a vista de quem me olha,

No dia em que a luz  não ilumina,

No dia em que a chuva já não molha.

 

Vou-me embora para outro sitío,

Um sítio longe daqui.

Quanto mais longe estou,

Menos te sinto em mim.

És

És

És só sombra do que quiseras  ser.

Luz baça e fria de estrela distante.

Fogo, sem chama rubra e flamejante

Que sopro gelado impediu de arder.

 

És a  flor sem cor...que o sol não quis ver.

Sem amplo espaço para o horizonte,

Sem água mais pura de uma outra fonte.

És flor fechada...sem o querer ser.

 

És mar sem marés, sem águas de prata.

Não quisera a lua nelas s'espelhar

P'ra que fosse ela somente a brilhar.

 

És vida ! que a ti te fora tão grata !

Descanso no Outono

O silêncio tomou-me por horas.

E coloquei a ponta dos pés na água morna.

Assim demorei.

Aos poucos, o ritmo da monotonia foi criando passos,

Usando os meus,

Em direção qualquer.

 

Por horas estive sonhando,

Um sonho tão profundo,

Que apenas lúcido conseguiria vislumbrar.

Em meu sonho, algo sussurrava

Um mistério tão profundo

À deriva

Abeiro-me deste pensamento
 
recém chegado
 
inundando o tempo de espera
 
ainda te tateava o ser rodeado
 
de oceânicas quimeras
 
gotejando a cada Índico naufrágio
 
no silêncio Pacífico desta espera
 
inescusável
 
contornando o litoral Atlântico
 
onde viajo contemplando
 
cada maresia que teu ser
 

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