À flor da pele

Acordei para uma madrugada
 
muito devagarinho
 
ateando aos sonhos mais
 
voláteis uma réstia de chama
 
que se renova na fartura
 
de vida que assim nos aclama
 
 
Acordei residindo nos teus
 
braços
 
dissolvendo-me nos teus perfumes
 
semeados à flor da pele
 
onde tatuamos com amor
 

Quando ela passava.

Se ela passa.

Quando ela passa.

Oh! Quando ela passa tudo passa com ela!...

Leva um bonito dia de sol, leva o cheiro das flores, leva a frescura do vento!

Quando ela passa tudo é mais fácil, tudo se ilumina.

O mundo conspira quando ela passa.

Até os pássaros cantam o seu nome, as folhas dançam num ritmo perdido pelo ar quando ela passa!

Até mesmo eu, desajeitado trapalhão balbuciante ganho jeito , e forma quando ela passa!

Na verdade agora é tudo um sonho, ela passava sim.

Passava com tudo isto, trazia tudo aquilo.

INSÓNIA DE VIDA

Malditas insónias que me atormentam as noites
Abro os olhos, mas só vejo a minha sombra
Tento escutar o silencio mas só me oiço a mim
Tento mover-me mas não consigo, sinto-me presa
Queria dormir para sonhar com a alegria
Mas as insónias só me dão tristezas, dores
Luto para sobreviver nesta puta de vida
Que não me dá nada a não ser sofrimentos
Sinto-me imóvel, pelas dores que me castigam o corpo
Não consigo dormir, passeio pelo corredor de casa
Olho a janela, a chuva castiga o vidro da janela

VIAGEM EXÓTICA SABORES EXÓTICOS

A boca, o beijo são o paladar dos sentidos
Bebamos o café com chocolate e hortelã
Tu já sabes que desejo-te na penumbra da noite
No entrecosto assado com limão, louro e alho
Eu não sei por onde anda o teu perfume de dia
De noite sinto-te no bolo de azeite, mel e nozes
Sei de ti na espera interminável, num dia de trabalho
Nas batatas assadas com bacon, alecrim e miscaros
Onde os gestos gritam de prazer na incerteza da dor
Do forno das peras assadas com mel e vinho do porto

SE EU FOSSE TALVEZ UM POETA

Se eu fosse talvez um poeta
Faria em magia todas as páginas
Livres sem lágrimas, sem dor.

Refeitas de sonhos coloridos
Vestidas com tinta da liberdade
Pintadas com dignidade e vida

Se eu fosse talvez um poeta
As letras tornar-se-iam em magia
Cobririam as páginas em branco.

Já vazias, esquecidas, perdidas
Que de negro se vestiram
Pelas mágoas, dores e sofrimentos

Se eu fosse talvez um poeta
Escreveria somente poesia
Na autenticidade de um verso.

MUTILADOS RUBROS DE VINHO

Restos mutilados na velha cor dos rubros vinhos
Gramática desarticulada acompanhada de lágrimas
Rasga a mortalha do peito no último arrependimento
Nas brumas dos caminhos esta o gemido silencioso
De um tonto místico profeta, na sua liturgia angustiante
Cicatrizes abertas no trilho da memória do sítio incerto
Tecerei uns sonhos irreais como feridos de batalhas perdidas
Penetramos no sentido da vida seríamos menos miseráveis
Nos anseios os tigres de garras que dilaceram o pior pesadelo

A tua canção

Dá-se a luz, perdeu-se na linha do olhar,

Seremos a essência que quebra o adeus.

A transparência onde se reflecte o luar,

Onde os meus poemas são todos teus.

 

És o maior motivo que eu conheço,

O melhor que já encontrei.

Que por muito pequeno que pareço,

O pior eu não serei.

 

Numa metamorfose à escolha,

Natural ou forçada.

Serei a caneta, serei a folha,

Serei tudo, serei nada.

 

O galo canta, a manhã rompe.

A vida é guerra, a morte é paz.

 

 

 

 

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