Anatomia Poética - Os Rins

És intrigante…

Recebes todas as injúrias,

Jogam em ti todas as sujeiras

E tu as suporta com naturalidade

E ainda consegues vazar a pureza!

 

Que coisa terrível é quando te zangas!

E quando adoeces e já não podes trabalhar, que calamidade!

Se bem que nem sei se trabalhas…

É apenas o teu jeito de ser;

Árduo, valente e tolerante.

Anatomia Poética - O Pulmão

Rochedo tremendo!

De tanto ar que te infla e te faz imponente

Tornaste o escudo perfeito para a frágil fonte da vida.

E é o que te faz orgulhoso:

Saber que guardas a vida!

 

Teu eterno esforço de reter o ar

Que te foge, posto que é etéreo

Fez-te forte. E tanto que te partiste ao meio

Para melhor suportar a responsabilidade;

E grande, visto que és o maioral entre os seus.

Anatomia Poética - O Coração

És o princípio, a gênese,

A frágil fonte da vida

Que nasce e jorra de ti a cada segundo.

Frágil sim, tanto que precisas ser bem guardado

Singelo, sensível…

 

 

Ah, sim! Sensível!

Tudo te afeta. Só tu amas,

Só tu sofres; só tu sentes.

E quando queres – e tens a mania de querer muito!

Não há força no mundo capaz de impedir-te.

Anatomia Poética - O Cérebro

Dono da minha razão,

Caixa forte dos meus tesouros.

Imenso – Pra quê? Só consigo usar um pedacinho…

Diplomata entre o meu querer, o meu poder e o meu precisar.

Tens o privilégio da fantasia;

 

És misterioso! Ninguém é capaz de conhecer teus segredos

E, por mais que queiras, és incapaz de aprender o mundo inteiro

O que é tua frustração, pois nasceste para saber tudo,

Para controlar tudo

E ser dominado apenas pelas minhas emoções.

SAÚDE

Meus órgãos protestam em passeata,

Reivindicam alimentação mais saudável,

O que como excita a digestão inflamável

E os intestinos roncam nada diplomatas.

 

Diariamente mastigo overdose de frituras,

Meu organismo consome muita gordura,

Dieta irregular que me percorre em viaturas

Elevando taxas que não me são miniaturas.

 

Comer é bom, mas exige apurada educação,

O sangue reclama quando chega ao coração

Tamanho o índice de açúcar que o envolve...

 

É imprescindível o controle quanto ao sal,

A âncora

A Vida

Quando ancorada no seu lugar

Dança numa sincronicidade amorosa

Se a cada sentir, eu respeitar

Se a cada voz, eu honrar

Certamente me sentirei vitoriosa

Face a tudo o que um dia fui

Quando ainda não tinha lugar

Retorno a mim, finalmente

Uma sensação de estar tão perto

Agradecendo profundamente

A todos os que revelaram

Pouco importa se errado ou certo

O caminho do meu crescimento

No regresso à minha fonte

No regresso à minha essência

Nunca deixando de acreditar

Gratidão

Nesta noite
 
deixo meus sonhos seguir o rasto
 
de tantos desejos inacabados
 
permuto contigo
 
um pouco de saudades
 
nunca esquecidas
 
sublinho na palma da mão
 
as coisas tangíveis
 
apalavradas no recanto infinito
 
onde sepultámos expectantes
 
todas as ânsias e tristezas
 
 

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