rumo à foz do amor

não são de mim
as palavras que não digo
mas sim
aquelas que eu penso
e escrevo
nas entrelinhas do pensamento
transmitindo-as
uma a uma
pelo olhar que te dedico

esse olhar que absorves
aglutinando
todas as palavras vindas de mim
e escreves
pelo teu simples sentido
o mais belo rio poema
que ruma
contra percalços e contrariedades
para a sublime foz do nosso amor

António MR Martins

sufoco dilacerante

longe estão as palavras do desafogo os âmagos expelem sentidos indecifráveis no espectro agonizante da impaciência talham-se formas às sensações descabidas do senso na congeminação das inconfidências indestrutíveis neste apego pelo desnorte apenas se suavizam pequenos bolhas de ar puro que ainda nos vão rodeando António MR Martins

Migalhas

Percorri tuas encostas
 
castigadas pela maresia
 
dos ventos espevitados
 
delicados,entrelaçados
,
irrepreensívelmente delicados
 
 
 
enfrentei persuadido
 
e extasiado tua beldade
 
beijo a beijo
 
confeccionados
 
num cálice de suspiros
 
tranquilos
 
e dóceis

Persona Non Grata

Metemos a mão nos cofres públicos.
Metemos a mão na liberdade de expressão. 
Hehehe! Hehehe! São João! São João!
Nós metemos a mão na opinião!...
 
A imprensa inimiga 
"sensacionalizou"
Todos os nossos discursos... 
Cortou gestos heroicos
E nos fez com cara de monstros. 
 
Fomos pegos num escândalo.
Estamos no semiaberto.
Obrigado quem colaborou! 
Obrigado quem encheu nosso bolso.

Vida Simples!

Vida simples é vida boa de ser vivida, sim. 
Vida simples é vida boa de ser descansada até o fim!
Enganam-se os suntuosos hostis
Que gastam o desnecessário 
Pra aparecer. 
Vida simples é uma rede. Um mar. Uma paixão.
Vida simples é união! 
É sonhar alto, 
humildemente
Com os pés no chão...
 
24 . 01 . 2015

poema em prosa dura

Lembro-me das férias grandes, da aldeia, do cheiro dos porcos e do meu avô.
Lembro-me de ver as galinhas a pôr nos cestos de palha, do gornir das porcas a parir e dos cães que corriam em liberdade, sem chip, nem trela, nem nome e lembro-me do meu avô.
Comandante da minha avó, dos porcos, da lareira, das galinhas e até de mim que tinha de lhe obedecer. Não sabia rir, ou não se notava sob as rugas simétricas da pele dura quando  se ria, falava de cabeça baixa, quando falava.

Serena manhã

Quisera eu
ter tempo para parar o tempo 
sorrirmos sem mais aprisionar
palavras confeccionadas em delírios
trajadas no estuário renascido
pela serena manhã nostálgica
que surge, imune
pincelada de beldade
repleta de fertilidade
completa e plena de autenticidade... 
FC
 
- aos meus amigos...todos

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