no Alentejo

Homem dum raio mais torto que um garrocho
ateimando em ir na outra facera
bota cardada e o chao escorregadio
eu vi logo que havia batacu no troço.

Ainda mandou as gadanhas à ombrera
O natibó disse desamparado e já tardio:
desconfiqui isto escorrega!
grande foirada!! Cair assim também é arte!

Sorriosta que por aqui ja nã vô
levantosse, encarnado como um tomate
sacudiu as calças de saragoça
e ganiu:
Menino bonito nã chora.

Pausa no tempo...

Pausa no tempo
 
Hoje apenas quero ser só teu exílio
recolher-me tão simplesmente
num sopro de vida
conseguir nem que seja
uma só pausa no tempo
pronúnciar estas palavras
que nunca direi
eu sei
pois chegarei ávido a este concílio
onde somente nós e jamais outros
entrarão num imenso
e casto entardecer
porque já por fim deixei
derramado meu riso e meu pranto

Nada como o tempo...

Nada como o tempo...
 
Nada como o tempo
pra nos fazer esquecer do tempo
mesmo percebendo que ainda precisamos
de tempo pra dizer tudo aquilo
que ainda não dissemos
mesmo sabendo que definitivamente
mesmo perdidos no tempo 
ainda nos resta este curto período de tempo
pra gostar o suficiente de quem afinal
nos procura e desafia constantemente.
 
Nada como o tempo
imediatamente conformado

Apaixonada

Apaixonada
 
Pra quê medir a extensão do nada
se apenas temos em nós cada preposição 
de tantas palavra meigas
na justa medida
em cada comedida lágrima contida
neste manifesto quase profano
onde me concretizo
feliz contudo neste propósito da vida 
calculado entre milhões de minutos
de números anónimos,segundos perdidos
torcidos em brados inconfundíveis
multiplicados pelas preces ajustadas

Óh!

Preciso fugir de tudo isto

Há muito que as decepções

me perseguem.

Há dias cheios de cores

E muitos perdidos 

na bruma do esquecimento.

Enegrecidos pela escuridão maldosa.

Houve um tempo em que tudo importava.

 Na busca pela perfeição.

E eu vejo tudo agora

Tão imperfeito!

Esta busca sempre, causou-me aflição.

Preciso fugir desta cidade fantasma

Que mora aqui dentro de mim.

Muits vezes ela machuca.

E tenho medo vir a ser

Mais um na solidão.

Preciso entender esta vida.

Será que sabemos?

Será que sabemos? à minha filha Noemi
 
Será que sabemos, 
que a alegria caminha lado a lado 
com a tristeza, 
a vida com a morte, 
a fartura com a escacassez, 
as vitórias com as derrotas.
Será que conhecemos 
os amigos que temos, 
os abraços fraternos que não demos, 
os mares que afinal nunca navegámos.
Será que sabemos, ou fingimos não saber, 
as palavras que não dissemos, 

Reconciliação

Reconciliação
 
Reconciliamos hoje todo
o compromisso com Deus 
deixemos verter nossa Fé tamanha,
pelas ruas silenciosas da meiga esperança
mesmo que tantas vezes penosa
mas outras , quantas,movendo montanhas
e o coração sabe...que na força e no encanto
das palavras leigas
ainda podemos intimar este desígnio
imenso numa jornada transcendente
onde redimimos na hora concludente
o que vai raiando entre tantos dias

Pitada

 

Um abraço coberto, um beijo recheado, um sopro doce sobre os cabelos molhados.

Na madrugada deserta o frio cobre os sentidos e o porto quente encontra-se nos nossos sorrisos, o sentimento feliz que aconchega a nossa alma.

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