RECADOS AVULSOS

A GAIVOTA PERENE

os violinos são rejeitados pelos tumultuosos povos que se abastecem de sermões.

A GUERRILHA URBANA

o chão vomitado da praça onde os mancebos agitaram estandartes cintilantes.

A HARPA FLUIDA

haja uma revolução onde não entrem militares nem os portadores duma arrogância que perfure a cerca dos costumes.

A IGNOTA ÍNSULA

o contacto do esperma com o rosto desfigurado duma mulher em cima dum estrado onde arremete a tirania.

A LÓGICA FURIBUNDA

Perder-te sem conta

Passo por onde te vi,
Naquela ultima vez,
Desde aí não vivi,
Não acredito no que a vida te fez.
São demasiadas as recordações,
Que vivemos lado a lado,
E sei que em todas as encarnações,
Ninguém foi tão amado.
Choro a tua perda,
Sofro tanto com a tua ausência,
E embora não entenda,
Tento conter a tua essência.
Vou embora,
Em busca de algo mais,
Só espero que agora,
Te possa seguir para onde vais.

Incerteza

Passo por ti,
Naquela encruzilhada,
Não sabes que parti,
Ninguém te disse nada.

Continuas enganado,
Porque é que não cantas aquela canção
Onde por mim disseste estar apaixonado?
Pensas que não te dei razão.

Veio aquela noite gelada,
No meio do Verão,
Tua alma ficou danificada,
Não mais vi tua paixão.

Só pedia mais um momento,
Nesta vida errada,
Para te mostrar que não me contento,
Para te mostrar que consigo fazer a coisa acertada.

Invasão

Penso de uma vez só, um pensamento invadido, um pensamento desajustado.

Quebra cabeças, vivemos na era das mudanças rotativas e incessantes. Pensar é crescer, crescer é decrescer. 

​Penso que só, é fraco o pensamento, feliz de acreditar que só não me deixas pelo momento.

Asas para voar

Passos do meu caminho, mais um em que me declino e avisto a linha do horizonte.

Trago em mim as asas que rasgam tempestades, que invadem por entre folhas soltas. O vôo alcança a vida terrena que me cercou infinitos tempos, dias que as folhas viviam presas num caderno que abandonei antes de voar às estrelas.

Poder do amor

​É este aperto que sinto, o aperto dos teus braços que firmemente me seguram e acalmam de todas as turbulências interiores e exteriores.

​É mútua a cumplicidade, nela  se empregam os nossos sentidos, uma forma tão autêntica, um jeito tão natural. Temos o poder, o de amar e ser amados, haja essa forma, a de saber ser feliz e fazer também, o poder é do amor mas a maneira como é vivido a nós compete, tornar inesquecível.

poemas vários

A ENTORSE BOÉMIA

quis abusar das palavras agressivas que engrossam o dicionário dos manifestos.

A ESCADARIA RIBOMBANTE

quando os conflitos se alojavam no sexo com vislumbres duma transparência assustadora.

A ESTRUTURA BOLORENTA

há pessoas que aliviam o sofrimento abraçando outras que lhes cospem em cima.

A FARFALHA ABUNDANTE

a inocência senta-se numa plateia de eruditos enquanto a armadura do juízo regurgita falcatruas.

A FARPELA EXAUSTA

Aquela criança

Aquela criança    - aos meus filhos -  Noemi, Ciro e Lucas
 
Assim, dia e noite
lá sigo os teus passos
no compasso de um
carinhoso abraço
que em ti pernoite
imenso nesta esperança
e num súbito traço
retrato,esguio teu espaço
deposito em teu regaço
um esboço livre no firmamento
dos nossos reencontros acalorados
temperados de bonança
quer queiras, quer não

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