O Protagonista

O Protagonista

 

Em um texto mórbido, nas linhas que o escritor buscava do interior de sua loucura. Sequelas humanas eram expostas. Procurava não caracterizar personagens, era apenas o protagonista de uma história que ainda não fora escrita, mas que por si mesma já existia. Quando um personagem não precisa do escritor, nem do leitor. Qual é o personagem entre o leitor e o escritor? Há milhões deles, talvez sejamos todos nós.

 

Charles Silva

a história duma moeda

uma moeda fulge no cetro, tapa o orifício da fome; anicha-se no ouvido, perfura o ar; em fúria avança e recua sobre os corpos ou funde a si quem parte em busca de ínfima sorte, na fonte peneirando, nas brasas da embriaguês; é uma coroa de espinhos, um enigma! inventa o açoite e o martírio e depois enterra-se no chão.

os fundamentos da alma

destapo o roteiro dos abusos, abro os cortinados existenciais com a força obstinada dum energúmeno que sabe apreciar o lado ínvio das paisagens; infiltro-me nos aquedutos da comunicação para que o mundo se emocione com as minhas evidências, reconto os desenganos sequentes aos sorrisos prestimosos e sinceros, desfaço os nós anquilosantes com uma lógica arrevesada no entrosamento das ideias com os factos experimentais; concebo uma evolução sem as farpelas roídas dos arlequins nem os prejuízos dos usurários ou os caricatos desempenhos dos idealistas, exulto com as estaladas que me transportam

O caminho

Posso não me sentar nas estrelas a olhar para a lua, viajar nu pelo infinito e misterioso espaço, poder olhar para o planeta azul vendo a beleza nua, pedir boleia para casa a um cometa resistente como o aço, andar na água no mar governado pelos deuses, subir montanhas altas nunca descobertas pelo homem, posso não realizar o meu desejo o sonho dos deuses, mandar embora todos os meus medos e receios, que me consomem

Sabão azul e branco

Lembrar da criança que ainda permanece no nosso corpo, agora mesmo olhei para ela, depois de tantos anos, como poderia me esquecer da infância uma injeção anticorpo, o quarto de azul e o teto branco, e os cortinados feito de panos, o chão frio de cimento, a base do meu pequeno pé gasto, o barulho dos vagabundos cães, nas frias noites de fevereiro, a minha almofada de cheiro a sabão que me abraçava sem deixar rastro, todo o dia uma aventura e no fim um banho, eu era a tinta e a banheira alguidar o tinteiro…

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