a história duma moeda

uma moeda fulge no cetro, tapa o orifício da fome; anicha-se no ouvido, perfura o ar; em fúria avança e recua sobre os corpos ou funde a si quem parte em busca de ínfima sorte, na fonte peneirando, nas brasas da embriaguês; é uma coroa de espinhos, um enigma! inventa o açoite e o martírio e depois enterra-se no chão.

os fundamentos da alma

destapo o roteiro dos abusos, abro os cortinados existenciais com a força obstinada dum energúmeno que sabe apreciar o lado ínvio das paisagens; infiltro-me nos aquedutos da comunicação para que o mundo se emocione com as minhas evidências, reconto os desenganos sequentes aos sorrisos prestimosos e sinceros, desfaço os nós anquilosantes com uma lógica arrevesada no entrosamento das ideias com os factos experimentais; concebo uma evolução sem as farpelas roídas dos arlequins nem os prejuízos dos usurários ou os caricatos desempenhos dos idealistas, exulto com as estaladas que me transportam

O caminho

Posso não me sentar nas estrelas a olhar para a lua, viajar nu pelo infinito e misterioso espaço, poder olhar para o planeta azul vendo a beleza nua, pedir boleia para casa a um cometa resistente como o aço, andar na água no mar governado pelos deuses, subir montanhas altas nunca descobertas pelo homem, posso não realizar o meu desejo o sonho dos deuses, mandar embora todos os meus medos e receios, que me consomem

Sabão azul e branco

Lembrar da criança que ainda permanece no nosso corpo, agora mesmo olhei para ela, depois de tantos anos, como poderia me esquecer da infância uma injeção anticorpo, o quarto de azul e o teto branco, e os cortinados feito de panos, o chão frio de cimento, a base do meu pequeno pé gasto, o barulho dos vagabundos cães, nas frias noites de fevereiro, a minha almofada de cheiro a sabão que me abraçava sem deixar rastro, todo o dia uma aventura e no fim um banho, eu era a tinta e a banheira alguidar o tinteiro…

Sequestro

Sequestro
 
Como um pintor
sonho-te na tela
de formas múltiplas,
doces e mais puras 
suaves e férteis 
isoladas num divino momento
ternamente delineadas
na eternização do tempo colossal
que ainda vagueia
noutros céus
prostrado,
implorando
apenas como simples mortal
até quando virei de novo
e por ti serei então sequestrado
FC

Começar de novo

Começar de novo
 
Já nem tua voz se ouve
quando navego nocturno
no tempo que passa
resta começar de novo
pra saciar de amor e segredos
plenos desejos
neste meu corpo qual
rebento renovo;
deixar por terra desastrados sentimentos
quando um terno e sublime amor
expressivo no teu olhar
se agacha de mansinho
entre meus abraços ternos
e lânguido ao teu toque

Inocência

Estou tentado à fortuna que encontro num olhar de uma criança que vê pela primeira vez um peixinho no armário (dentro do aquário) e pergunta: "oque isso". Pela entrega do corpo aos carinhos que fizemos na barriga e o ninar que embala seu sono. Pois enfim, são coisas que aconteceram conosco e que temos paixão de ver de novo acontecendo com um ser totalmente dependente de nosso juízo.

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