A Cama

A Cama

 

Cama nómada que colhe os ventos das estações,

a espiral do amor sequioso,

o fogo fragmentado das nascentes de mim,

o respiro ardente e abrupto dos Amores,

em lençóis de pele nua.

 

Bebo-te o desejo frágil em sílabas de carícia,

tu és o meu texto das palavras perdidas,

tu és a página principal do meu livro,

tu és o corpo em espaço vazio,

tu és a essência da existência,

 a fonte da caligrafia do tacto.

 

 

Leito  de pele onde repousa o feminino,

MENDIGO DA ALMA

MENDIGO DA ALMA

Velho de olhar triste, pobre e vagabundo
Tens por companheira a miséria dominante
Viajante de alma e mendigo neste mundo
Que em delírio beijas o pó, murmurante.

Onde os dias e as noites passam sem ter pressa
Onde nada é diferente e tudo te parece igual
Até o dormir, no canto escuro de qualquer travessa
No chão de pedra enganas o frio num leito de jornal.

Mora próximo a demência, que cultiva esse fadário
Nessa alma adormecida, em que a sorte é a morte
Que num ato de amor, termina esse Calvário.

À ATRIZ KERI RUSSELL

Aos teus pés hei de viver agora
E nada poderá me exilar
Do santuário de teu abraço.
Desde que conheci tua aurora,
De meu pensamento fiz teu lar,
Teu íntimo espaço.

À tua sombra de majestade
Não me importo com a escravidão,
Que me impõe teu soberano amor,
Porque teu nome é Felicidade
E vou gravá-lo em meu coração,
Qual um escultor.

TEMPESTADE

Ruge o céu todo em bravura!
- Este negro patamar
Em sinistra sepultura
Vai guardando a azul candura,
Em o ocaso arremedar.

Recolhida a luz brilhante
Que lançava o imperador,
Quem nos conduz ao instante
De arcar, assim petulante,
C`os trejeitos do labor!

Agora rasgam os seios
- tetos dos seres da terra –
Com seus macabros enleios
Os raios em devaneios,
Como os gládios numa guerra!

Farrapo...

Foste tecido vistoso,
vestiste-te e deixaste-te vestir,
moldaste-te a vários corpos,
nos tempos áureos do teu existir...
Veio os anos,
veio as modas,
e tu foste-te adaptando,
à necessidade por vezes nem sempre tua,
mas daqueles que te foram usando...

A tua textura mudou,
o tempo esse não perdoa,
a mão que outrora te afagou,
é a mesma que hoje te magoa...
Tão injusta é a vida,
tudo se rege pela vaidade,
ninguém se compadece do que é velho,
parece que tudo tem validade...

VERSO 'U'

                                              VERSO    " U "

21

                                   " U"  Quer dizer Uva

                              Sabor do beijo que lhe dei;

                              Entre os amores que tive,

                          Você, foi o que eu mais amei"!

 

Autora: Madalena Cordeiro...

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