Quando eu não te tinha
Autor: Alberto Caeiro on Thursday, 17 January 2013
Escrito em 6-7-1914.
Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Escrito em 6-7-1914.
Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável,
Porque para o meu ser adequado à existência das cousas
O natural é o agradável só por ser natural.
Não há assunto tão velho que algo de novo não pode ser dito sobre ele.
Meu pobre amigo! Sempre silencioso!
Assim eu fui. Scismava, lia, lia...
Mudei no entanto de Philosophia.
Não creio em nada! e fui tão religioso!
Tomei parte no Exercito gloriozo
Que foi bater-se por Israel, um dia!
Cri no Amor, no Bem, na Virgem Maria,
Não creio em nada! tudo é mentirozo!
Não vale a pena amar e ser amado,
Nem ter filhos d'um seio de mulher
Que ainda nos vêm fazer mais desgraçado!
(A. A.)
Conta como é que existe
A tua vida á luz,
Lyrio mais casto e triste
Que os olhos de Jesus!
Quando nasceste, flor?
Quem te arrancou do chão?
Gérou-te occulto amor
De morto coração?
Ó lyrio delicado!
Ó lyrio branco e fino!
Talvez fosses creado
N'um seio femenino!
Escuta ó lyrio amado!
A flor confunde os sabios...
Talvez fosses os labios
D'aquella que hei amado!...
(A Léon de La vega)
Olha! sinto-me exhausto
Pomba da minha vida!
Eu serei o teu Fausto,
Sê minha Margarida!
Deixa que o alegre ria
Alma que me estremeces!
Que ruja fóra a orgia
Os prantos, as _kermesses_!
Vamos a colher rosas,
Rola dos meus carinhos!
Pelos brancos caminhos
Nas noutes luminosas!
Sob esta curva azul
Amemos, bem amada!
Na torre levantada
Que gema o rei de Thule!