FRAGMENTO

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    Deixal-o: os olhos fecho á luz e quero...
    Quero-te, oh sonho, se és doirado e lindo:
    Mais que a teus fachos, pedagogo austero!
    Que me condemnas em chorando e rindo.
    Sempre olhos fundos, sempre esse ar severo...
    Razão! não te amo; mas a ti, bemvindo,
    Tu que os conselhos nunca, amor! lhe tomas;
    Dás luz á lua, dás á rosa aromas.

*MISERIA OCCULTA*

Bate nos vidros a aurora,
Vem depois a noute escura;
E o pobre astro que ali móra,
Não abandona a costura!

Para uns a vida é d'abrolhos!
Para outros mouta de lyrios!
Bem o revelam seus olhos,
Pisados pelos martyrios!

Miseria afugenta tudo!
Miseria tem dons funestos!
Quem é que gaba o velludo
D'aquelles olhos honestos!...

Ninguem seus olhos brilhantes
Descobre n'essas alturas...
E aquellas formas tão puras,
E aquellas mãos elegantes!

A hum Fidalgo, que pedia para o Author hum lugar na Secretaria

_A hum Fidalgo, que pedia para o Author hum lugar na Secretaria, na
occazião em que elle pertendia o seu proprio Despacho_.

Se vemos rir quem chorava,
E tantos exemplos temos,
Senhor, não desesperemos,
Deos ainda está onde estava:
Água branda as pedras cava;
Em tudo o tempo he precizo;
Saber teimar com juizo
Tem mil montes aplanado;
Talvez sejais despachado,
E talvez que eu lavre o Avizo.

Continuar a viver

 

Pensar que estou feliz incomoda!

Não deveria sentir-me feliz num mundo cheio de problemas. De dificuldades. De coisas não resolvidas. De miséria. De fome. De desemprego…

Não deveria sentir-me feliz quando à minha volta a tristeza impera. A desilusão parece ser uma constante.

Não deveria sentir-me feliz quando alguém ao meu lado chora!

Quando alguém tem frio e não tem o que vestir.

Quando alguém tem fome e não tem o que comer.

Quando alguém quer trabalhar e não tem o que fazer. Um emprego para onde ir.

No entanto…

Escrevo-te



Escrevo-te porque te sinto. Porque o desejo é imenso.

Escrevo-te porque não te esqueço. Continuas entranhado no meu ser! Fervilhas dentro de mim.

Escrevo-te porque estás vivo. Presente. Por muito que queiras estar ausente.

Partiste com intenção de esquecer. De deixar de existir. De morrer.

Não conseguiste!

Vives na minha alma. No meu corpo. Na minha pele… vives! Jamais vais morrer…

Enquanto eu viver!

TOADA PARA AS MÃES ACALENTAREM OS FILHOS

_A Bertha Cayolla Gil Vianna_, minha sobrinha

Oh Desgraça! vae-te embora,
Que esta linda criancinha
Andou no meu ventre e agora
Trago-a nos braços. É minha!...

Do berço, segue-me os passos;
Onde eu vou, seus olhos vão...
E quando a aperto nos braços
--Abraço o meu coração.

Quando o seu chôro receio,
Embalo-a, faço que acceite
A alegria do meu seio
Na brancura do meu leite...

*Ballada do Caixão*

O meu vizinho é carpinteiro,
Algibebe de Dona Morte:
Ponteia e coze, o dia inteiro,
Fatos de pau de toda a sorte:
Mogno, debruados de velludo
Flandres gentil, pinho do Norte...
Ora eu que trago um sobretudo
Que já me vae a aborrecer,
Fui-me lá, hontem: (era Entrudo,
Havia immenso que fazer!...)
--Olá, bom homem! quero um fato,
Tem que me sirva?--Vamos ver...
Olhou, mexeu na caza toda...
--Eis aqui um e bem barato.

HERESTA

Que magua ou que receio
    Dos olhos te desata
    Aljofares de prata
    No jaspe do teu seio?

    Bem intima ser deve
    A pena que te opprime,
    Flôr tenra como o vime,
    Flôr pura como a neve!

    --Compunge-te isso, dóe-te
    Vêr esmaltando o calix
    Da erma flôr dos valles
    O balsamo da noite?

    Se aos olhos nos affluem
    As lagrimas, parece
    Que a dôr nos adormece,
    E as maguas diminuem.

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