Ponto final (N'UM ALBUM)

Pediste-me um soneto delicado,
Exquisito, gentil, galanteador,
Feito com versos d'oiro e cravejado
Com rimas de finissimo lavor.

Ora eu, confesso aqui o meu peccado,
Nunca tive feição de trovador,
Acho o lyrismo d'album requintado,
Banal, elogioso, sem valor.

Aqui me tens; jámais falto ás promessas.
Exijo, pois, de ti que não esqueças,
Em troca, filha, este pedido meu:

Que para ennobreceres o soneto,
Venhas fechar o ultimo tercetto
--Com o ponto final d'um beijo teu.

O CAÇADOR FEROZ. (_Burger_).

Sua buzina tocára
  O conde, altivo senhor:
  «De pé, de cavallo, álerta!--
  Disse; e monta o corredor.
O nobre animal relincha:
  Pula e parte; e a turba após.
  Ei-los vão! Quem era o conde?
  Era o _caçador feroz_.
Por estevaes e por sarças,
  Por campinas cultivadas,
  Voam rapidos. Resoam
  Motejos, gritos, risadas.
O sol que vinha rompendo
  Em luz as veigas banhava,
  E do zimborio do templo
  O lanternim scintillava.
«_Tlim, tlão!_--convocando á missa,

Eu deliro, Gertrúria, eu desespero

Eu deliro, Gertrúria, eu desespero
No inferno de suspeitas e temores.
Eu da morte as angústias e os horrores
Por mil vezes sem morrer tolero.

Pelo Céu, por teus olhos te assevero
Que ferve esta alma em cândidos amores;
Longe o prazer de ilícitos favores!
Quero o teu coração, mais nada quero.

Ah! não sejas também qual é comigo
A cega divindade, a Sorte dura.
A vária Deusa, que me nega abrigo!

Tudo perdi: mas valha-me a ternura
Amor me valha, e pague-me contigo
Os roubos que me faz a má ventura.

O CANTO DO COSSACO. (_Béranger_).

Vem, meu ginete: oh vem, meu nobre amigo!
Chama-te em altos sons tuba do norte.
Prestes no saque, intrepido nas brigas,
Dá, guiado por mim, asas á morte.

Os teus jaezes não arreia o ouro;
Mas de meus feitos o terás em paga.
Meu ginete fiel, rincha orgulhoso,
E os reis e os povos com teus pés esmaga.

Tuas rédeas me entrega a paz que foge.
Ei-los por terra os europeus baluartes!
Meus aureos sonhos realisa agora;
Terás repouso na mansão das artes.

Os Meus Versos

Rasga esses versos que eu te fiz, amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!

Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!...

Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente...

VENTURA

    O sol na marcha luminosa vôa
    Lançando á terra magestoso olhar;
    Passa cantando quem o ar povôa
    E a praia abraça venturoso o mar.

    No bosque o vento dôce canto entôa,
    Ouvem-se em côro as multidões cantar;
    Que a um só triste o coração lhe dôa,
    Que eu seja o unico a soffrer, chorar...

    Por ti, saudade... de quem vai tão perto
    E a quem dos olhos e das mãos perdi
    N'este tão ermo lugubre deserto!

*ACCUSAÇÃO A CHRISTO*

Bradava um dia ao Christo, ao Redemptor,
Satan, cançado d'insultar os astros:
--Eis-te pendido ahi qual velha flor,
Propheta escarnecido nos teus rastros!...

Vê como a Egreja vae! baixel sem mastros!
Navio roto em mares do Equador!
E os seus padres tem ouros e alabastros,
E folga, Messalina sem pudor!

Tem lançado teu corpo aos cães e aos corvos!
Falsificado a Lei, cheia d'estorvos,
E fogueiras erguido, ó Christo! ó Cruz!...

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