Devia-se estar sempre apaixonado...
Autor: Oscar Wilde on Wednesday, 21 November 2012Devia-se estar sempre apaixonado. É a razão pela qual nunca nos devíamos casar.
Devia-se estar sempre apaixonado. É a razão pela qual nunca nos devíamos casar.
Assim, minha tristeza voltando sempre, e me achando mais perdida aos meus olhos - como a todos os olhos que quisessem me encarar, se eu não tivesse sido condenada para sempre ao esquecimento de todos! - eu tinha cada vez mais fome de sua bondade. Com seus beijos e abraços amigos, era mesmo um céu, um escuro céu, onde eu entrava, e onde gostaria de ser deixada, pobre, surda, muda, cega. Já eu me acostumava. Eu nos via como duas boas crianças, livres para passear no Paraíso de tristeza.
Dai-me ũa lei, Senhora, de querer-vos,
	Porque a guarde sob pena de enojar-vos;
	Pois a fé que me obriga a tanto amar-vos
	Fará que fique em lei de obedecer-vos.
	Tudo me defendei, senão só ver-vos
	E dentro na minha alma contemplar-vos;
	Que se assim não chegar a contentar-vos,
	Ao menos nunca chegue a aborrecer-vos.
	E se essa condição cruel e esquiva
	Que me deis lei de vida não consente,
	Dai-ma, Senhora, já, seja de morte.
Numa incerta melodia
	Tôda a minh'alma se esconde
	Reminiscencias de Aonde
	Perturbam-me em nostalgia...
	Manhã d'armas! Manhã d'armas!
	Romaria! Romaria!
. . . . . . . . . . . . . . .
Tacteio... dobro... resvalo...
. . . . . . . . . . . . . . .
	Princesas de fantasia
	Desencantam-se das flores...
. . . . . . . . . . . . . . .
Que pesadêlo tão bom...
. . . . . . . . . . . . . . .
	Pressinto um grande intervalo,
	Deliro todas as côres,
	Vivo em roxo e morro em som...
Versos! Versos! Sei lá o que são versos...
	Pedaços de sorriso, branca espuma,
	Gargalhadas de luz, cantos dispersos,
	Ou pétalas que caem uma a uma...
	Versos!... Sei lá! Um verso é o teu olhar,
	Um verso é o teu sorriso e os de Dante
	Eram o teu amor a soluçar
	Aos pés da sua estremecida amante!
	Meus versos!... Sei eu lá também que são...
	Sei lá! Sei lá!... Meu pobre coração
	Partido em mil pedaços são talvez...
Morre a luz, abafa os ares
	Horrendo, espesso negrume,
	Apenas surge do Averno
	A negra fúria Ciúme.
	Sobre um sólio cor da noite
	Jaz dos Infernos o Nurne,
	E a seus pés tragando brasas
	A negra fúria Ciúme.
	Crespas víboras penteia,
	Dos olhos dardeja lume,
	Respira veneno e peste
	A negra fúria Ciúme.
	Arrancando à Morte a fouce
	De buído, ervado gume,
	Vem retalhar corações
	A negra fúria Ciúme.
Era loucura ou sonho? Entre as tristezas
	E os terrores e angustias, que resume
	Neste dia e logar a avita crença,
	Irresistivel força arrebatou-me
	Da sepultura a devassar segredos,
	Para dizer:--Tremei! Do altar á sombra
	Tambem ha mau-dormir de somno extremo!»--
Eu tive um sonho estranho: ouvi que vou dizel-o.
	Era em praia dezerta, em frente a um longo mar:
	Nos céos havia a nevoa, a mãe do Pezadêlo,
	E o vago, o incerto, o informe em tudo a oscillar!
	De subito surgiu, na praia, uma criança
	D'olhar profundo e bom, d'angelica expressão,
	E o mar contemplou com tanta confiança
	Que nem que visse n'elle o berço d'um irmão!
Precisamos Jesus, se não te sentes velho,
	Que cinjas novamente o resplendor de luz
	E venhas explicar a letra do evangelho
	A muitos que hoje vês prostrados ante a cruz!
	Ainda não cessou, de todo, essa contenda
	Que um dia, ha muito já, tentaste debellar:
	E aquelles que são bons e adoram tua lenda
	Desejavam tambem ouvir-te hoje falar.
	Apenas resoasse o teu verbo indignado,
	O latego febril das grandes corrupções,
	Iria atraz de ti um mundo revoltado
	Que sente na consciencia a luz das redempções.
Ó machinas febris! eu sinto a cada passo,
	Nos silvos que soltaes, aquelle canto immenso,
	Que a nova geração nos labios traz suspenso
	Como a estancia viril d'uma epopea d'aço!
	Emquanto o velho mundo arfando de cansaço
	Prostrado cae na luta; em fumo negro e denso
	Levanta-se a espiral d'esse moderno incenso
	Que offusca os deuses vãos, anuviando o espaço!
	Vós sois as creações fulgentes, fabulosas,
	Que, vibrantes, crueis, de lavas sequiosas,
	Mordeis o pedestal da velha Magestade!