Está na hora da verdade

Pessoal, está na hora da verdade.

Neste beiral onde o tempo aterrou.

Sem demora, nem vaidade,

Despido na praia da saudade,

Que o Mar nunca beijou.

 

Preso na formalidade,

Engenho que o Homem criou.

Pessoal, está na hora da verdade,

Transparente sal cristalizado,

Lágrimas do meu avô.

 

Asséptico

Gostaria de voltar a ser asséptico, resguardar minha pureza nas plumas tão belas. Hoje o vento me viola, e a lua cheia fita meu fracasso. Percorri terrenos tão azuis, pareciam quimeras de sonhos juvenis; hoje a escuridão estrelada decai o vigor que havia em outrora. Fui limpo um dia, mas hoje, sujo; impuro, cheio de vermes perscrutando meus órgãos: a cada segundo minhas entranhas são devoradas por decadências até ontem estranhas. 

Entre chuviscos

Entre chuviscos o tempo liquefaz-se num desejo impiedoso
No limbo das palavras só o silêncio jaz radiante e suntuoso
Sem pestanejar a dia queda-se entre famintos afagos  maviosos
 
Entre chuviscos a solidão encastra-se nos lençóis de um sonho sedoso
Nos píncaros da noite a paz enleva-se no mastro dos sussurros assombrosos
Cada breu é um bálsamo fértil e faminto prostrado no silêncio meticuloso
 
Entre chuviscos a vida renasce no estampido precário de um eco vertiginoso

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