Demiurgo

A linha do universo é tua,
E o embaraço que atua
Enrola na teia íngreme
A humanidade tisne:
Presa na arma: matéria
Aracnídeo torra a pérfida
Raça humana, mas logra
Deus e teus anjos afora
Não há escapatória
O rei da misericórdia
É o carrasco do júbilo,
Como és o murmúrio
Dos ventos fatídicos
De invernos lúdricos  

 
 

 

NATIVA HORA CATIVA

 

i.

nas cavernas e grutas

se esconde a idade média

e um certo confronto 

infame infante

ii.

tenaz alvoroço e traços

de um chicote de plantas

nativa hora cativa

plasma volátil na haste

iii.

a hidrogena lagoa

degola o pássaro-míssil

embaraça o sexto sentido

e perfura as nuvens de viés

iv.

desfaz a carícia da sombra

e à mercê do sufrágio

garante a valsa abstrata

que oscila no pêndulo preciso

 

Fobia Social

Enclausurado pelo medo insalubre,
sentenciado em prisão domiciliar.
Acusado pelo frio na espinha:
Multidões me deixam doente.

Não desisto das coisas, não mesmo,
mas acontece que não há sossego;
Minha alma vai a cem por hora,   
na contramão d'rosa que aflora.
Um jardim  tão lindo me espera,
mas o buque de flores me enterra.
 
O medo de enfrentar é uma enchente,
E minhas lágrimas dão mar sofrente.
Todos na vida debruçam em potência,
enquanto o solitário, sangra clemência.

Aqueles que pertencem à noite

Um espírito escuro está rondando
Os degraus do local insólito
Rugidos melindrosos crescem aos ouvidos
O inferno quer devorar a maldita alma

Neste hospício as vozes me enlouquecem
Não há nada além dos cantos que fenecem
Obscura chance de fugir, torrente sorte
Enclausurada na parede torpe

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