A serenidade dos silêncios

Vi-me dentro da bolha dos ternos silêncios estáticos
Deixei a alma fundir-se com todos os lamentos axiomáticos
Deixei as palavras exprimirem sua raiva contida num uivo selvático
 
Na serenidade dos silêncios flutua a manhã convertida num eco apático
Perdido na serenidade do tempo esvai-se um segundo bravio e matemático

Banalização

Sei que é banal da vossa parte 
Desprezar o escritor e o poeta.
Mas, e se fosse crime 
Abandonar um poeta à sua pobreza humana
Se o poeta nunca vos abandonou,
Sozinhos na vossa ignorância profana.
 
Sei que acham banal assistir 
A coisas e a manter-se calados 
No canto porque foram educados a assistir
Mesmo a coisas que podessem ficar traumatizados
Quando o pai pedia que fossem educados
Quando ele fazia o sinal de silêncio.

Vida humana

A vida humana trasanda a falsidade

Como quem trasanda a ópio

Que distorce a verdade

Daqueles que são cegos ao óbvio,

Drogados numa crença 

São a sociedade critica 

Que vai atirar a primeira pedra.

 

Ter uma solução,

é como ter um bem sagrado ou precioso.

Num universo paralelo 

Onde os deuses se davam 

Com os homens e os homens

Não eram castigados pelo que pensavam

Havia respeito pelas suas ordens.

 

Palavras de línguas perdidas que os clérigos

Permanente

Permanentemente a mente mentem

Mentiras permanentes na evidência

Eventual da constante sobrevivência

da humana condição já demente.

 

A mente sabe desmentir à cara podre

a pobreza de raciocínio lógico

abafado pelo eco longínquo

do despertar para combater a hipocrisia

dos cruzadores de braços perpétuos.

 

Caímos na desgraça tão engraçada

de dar graças a seres invisíveis

graças à imaginação exagerada

de um idealismo de seres sensíveis

que tem poderes de cura para a felicidade

Cântico saturniano

Apresento o senhor do tempo
Aquele que consome os ossos
O regente da finalidade
A força motriz da decadência
Ele casa com os seres ábditos
Seu anel exprime os dedos dos homens
Sórdido criador do divórcio
Separa q vida com a morte
Terra seca, galhos quebrados e sangue
Carniça exposta, encruzilhada e lixo
São o banquete para ele
Devorador do amor e de tudo bom

Saturno

Deus do fim, predicando as finalidades últimas. Simboliza o cansaço do tempo, sempre aguardando a paisagem de inverno: congelando os amores da carne, adoecendo os prazeres da vida. Sua força é gradual, mas no momento agente, és veloz como uma asa de beija-flor. Está sempre faminto, sua essência sempre requer opulência; devora a alma daquele sofredor; devora os girassóis enraizados na beleza; devora a arte, a mesma que vive por ti. Em suma, nunca está satisfeito pelas suas mortes.

E depois da guerra...

E depois da guerra… a vida esvai-se esventrada, quase excomungada
Em plena escuridão escorrega um absurdo breu deprimido, derrotado
Ali peleja um abrupto lamento, qual clangor ou gemido não acudido
Apavora um silvo doloroso, quase perpétuo, fluindo tão contundido
E depois da guerra…vagueia um triste lamento asfixiado…quase aturdido

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