os meus desejos retumbam num firmamento individual e consolidam-se na arte poética: eles são matrizes duma exigência que se adensa nas profundezas do meu ser; são missivas timbradas pela solidão.

translado para a poesia muitas agruras por interpretar: são mensagens que eu sustento para decompor a antiga tristeza em versos que condensam os meus problemas e os removem para um recanto da inspiração.

o meu coração fraturou a vitrina do sentimento: ele massacrava a frágil gente que obstruía o meu percurso; ele vingava os traumatismos da minha existência desguarnecida; ele geria o meu rancor.

na minha juventude as palavras encravavam e os afetos tinham o travo da amargura; nas minhas notívagas experiências eu era um morcego que não sabia voar: nelas revivia uma existência desditosa.

já na treva não me encontro porque desloco as reflexões para a minha poesia; as regras austeras da minha vigorante condição; os sublimes ensejos de que desfruto quando assimilo o mundo que criei.

quando as lágrimas se enxugam há ideais que triunfam sobre os nossos anseios para plantarem um viridário que bloqueia todo o sofrimento; que derivam para o êxtase e para a imaginação.

o lado oculto das pessoas inclui vestígios de malvadez que alcançam o núcleo das suas condutas; o seu jornadear louco e febril até à imprudência e mesmo até ao crime; até à regressão da sua sensibilidade.

os vocábulos projetam-se da minha razão para o lupanar existencial: onde a turba esperneia removendo o pudor dos seus atos malvados; onde a perfídia é assestada à credulidade dos homens singelos.

as ideias deduzem-se dos assuntos abordados nos meus versos; da minha condição de observador que fende o seu progresso para lhe introduzir as mágoas que suportou; da costura dos meus sonhos fracassados.

haja empenho em resistir aos temas banais que ofendem a nossa instrução; os nossos valores e as nossas aspirações; a essência dos poemas que escrevemos; os símbolos da nossa harmonia.