as páginas de regozijo que eu vou acumulando têm o sabor da vitória sobre os meus tormentos; sobre as atuações impróprias que me fizeram desalentar; sobre a desprezível gente que estorvou as minhas ambições.
demando o bem-estar nos sortilégios da poesia: são tempos de ascese que geram uma paz espiritual; que transformam o meu viver numa jornada introspetiva; que extravasam um regozijo que eu transmito aos leitores.
onde estão os sóis?
/que quebram o breu
das pétalas pétreas/
onde estão as luas?
/que acendem os véus
das noites etéreas/
pasme!
/estão bem alí
ao alcance do sonho e do olhar/
consagro na poesia os ditames que refutam as nossas vidas; que censuram as entidades que nos oferecem benefícios interesseiros; que nos promovem a emissários das vetustas tradições; que soerguem o edifício das angústias que nos vinculam a homilias impostoras.
observo a farsa intrometida na vida das pessoas para depois retroceder ao tempo do garoto que afrontava o mundo com desenvoltura; que exprimia manifestas proezas apesar dos insultos dolorosos que suportou; apesar da transparência dos seus atos.
Há uma distância ditante
entre o mínimo e o abastado
de uma vez por todas
esse tipo de amor não tem meu agrado
até de fome
choram os gatos no telhado
falta compaixão também nos pratos dos humilhados
Descalços sem sapatos
as dores maiores não são divididas
pés no chão, de dores que já ficaram acostumados
há uma distância humilhante
entre o mimado e o defraudado
qual a razão de ainda
de existir tal espetáculo!
entendo as lágrimas vertidas pelos homens quando destapam as suas adversidades; quando acendem a fogueira das angústias para retinirem os seus problemas mais urgentes; quando caminham na vida como autómatos por causa dos seus entorpecidos sentimentos.
repudio aqueles que ferem o orgulho de outros com as suas palavras impregnadas de escárnio e mal dizer; com as suas invejosas atividades que logram paralisar instituições; com as suas atitudes desleais.
despojo-me dos preconceitos falidos para transverter a minha existência num recreio doirado; para ofertar a mim próprio um refrigério durável; para construir um edifício literário com as palavras que brotam da minha alegria vigente.
a alma consumida pelos degenerados eventos da vida intenta salvar-se através dos versos que gera; através dos locais de sabedoria onde os poetas depositam as suas flores aromáticas; através da exaltação dos seus benfazejos talentos.