Teus Olhos Entristecem

Teus olhos entristecem
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.

Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.

Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.

Noite de luar encoberto

Numa noite tão obscura e empoeirada,
Almas desoladas fazem casa nos prazeres
Pecadores das velhas ruas de sombrios ruídos
E dramáticos afazeres desgostosos.

Perdido neste inferno tão saboroso,
Inquieto e isolado estou, claustrofóbico,
Já que de tanta gente vagabunda no mundo,
Nenhuma se esforça para entender o vazio.

Mas eis que me vem uma familiaridade,
O olfacto captura uma memória terna,
E no instinto eu atuo, recebendo o presente
De quem decidiu fazer-se alguém a mim.

Lembranças do Ferrorama

O tempo colapsou de diversas maneiras:
eu não tive "Ferrorama" na infância
mas percebi que estava entrando na fase das maiores responsabilidades
que não havia mais tempo para brincadeiras
a viagem da vida às vezes é pelos trilhos
outras vezes por estradas áridas e dramas
vou ser ilógico
num espaço de tempo
meteórico
vou trazer instantaneamente quase todas as
ruas asfaltadas de minha infância
prefiro salvar a história até quando o juízo permitir ou pelas
cartas do fantasma do passado

Epitáfio

Há dias em que meu quarto não tem porta
Não desejo ir para lugar algum
Seria bom ter opção mas não tenho

Às vezes me pego questionando
Será que vou morrer aqui dentro?
Sufocada pelo o que não foi dito

Raramente eu abro a janela
Não me sinto muito confortável com a luz
É brilho demais para os meus olhos cansados

Uma nova aurora

Levantem-se os céus em azulada aurora,
Banham-se as nuvens das novas vontades,
E enquanto o mundo ainda dorme
Salta do leito do descanso uma bela vista.

Dou graças por ainda poder descansar
E saber que posso relaxar.
Aguarda-te o renascer da rotina
Numa paisagem que nunca sabia existir.

É saboroso conhecer esta maravilha
E a ela poder sonhar e amar.

O bem e o mal

Mancomunado e à espreita
todo mal a pulsar
quem se revira na rede são os peixes vivos
já os mortos não podem se revirar

os poderosos têm patrocínio de ricos
já o pedinte se virá como dá
mais o próprio Jesus disse:
ao próprio Judas:
os pobres, sempre terás!

Esse sem juízo diz ser poeta
que em sua mente sã, só a guerra faz pensar
escreve com pena de leve a sentença
de toda dor que atormenta a paz
que demora e custa chegar

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