em meu closet quarto/escritório
onde me escondo das sombras e das montanhas

planto-me pronto para escrever sobre motivos e reflexões

cercado por verdes paredes de tijolos
e coisas usuais

notei preso à parede frontal
uma antiga pintura surreal que passava-me

imperceptível e comum

nem tão Salvador Dali assim
nem tanto abstrata e Dada assim

entretanto pareceu-me que
expressava pictoricamente

a Torre de Babel
que confunde a língua minha

-embora não o aprove...

Tem coisa divina no encalço de gente desavisada para acontecer
Flores perfumadas para dissipar o silêncio e o noturno
Flores espetaculares para a ocasião incerta
Colorirão um mundo quase esquecido
Tem amabilidade cicatrizando a tristeza
Que pede bis à vida cinzenta, desacreditada

Chove sem parar
No canteiro de obras do desperdício humano
Me viro, de qualquer jeito, em qualquer nação
Nem na pele sou perfeito
Na enigmática introspecção
Todos os genes contidos, fiel modelo
Primeiro a Eva e o seu grande amor vitalício
Tantas contas paradas
Tanta fome sem solução
Tem favela com mais censura
Morte, morte, morte... mais solidão
Tem nobre que não abre seu portão.
Protetor do seu imposto
Abrem seus leques para amenizar o calor
Tem comida importada para pets
Vem a morte...