preconceitos falidos
Autor: António Tê Santos on Monday, 17 March 2025coloro aguarelas com quimeras que pulverizam os escolhos que me torneiam; que navegam por rios de ternura que expandem a minha poesia; que sinalizam os meus desejos prementes.
coloro aguarelas com quimeras que pulverizam os escolhos que me torneiam; que navegam por rios de ternura que expandem a minha poesia; que sinalizam os meus desejos prementes.
as profusas lágrimas que eu verti nas querelas que me cercaram tentando decifrar as suas razões; os seus obstáculos cortantes que me feriram a alma; que me perturbaram a sensatez martirizada por tantas arremetidas.
tenho o apuro dum poeta maldito que se guinda a uma serrania escarpada para resolver as suas angústias; para acabar com as vertigens que proliferam no recetáculo das suas ilusões; para diluir os seus conflitos no mar infindo da harmonia.
os fardos da vida justificam a náusea que por vezes influi na minha existência de poeta: nos inusitados temas que concebo para desdobrar as minhas análises; nas lembranças dolorosas que emergiram da minha solidão.
dourei a vida com um manifesto de lucidez para obstruir os meus percalços; para expor a farsa introduzida nas atuações grandiosas das pessoas; para revelar as máscaras que desacreditam a sua genuinidade.
as palavras cruéis que eu ouvi nas funduras dum querer desfeito... nos lugares escarpados onde plantei a solidão... nos temporais gerados pela minha ousadia... no decoro hipócrita que me rodeou... nas agressões severas que me golpearam...
*Solidão*
Talvez este seja meu destino
Crescer e morrer como um lixo
Talvez como algo sem valor
Porque até o lixo tem um valor
Sinto-me cansado com a vida
Sinto-me cansado de ser solitário
Já tentei no álcool me perder
Nas profundezas dos idólatras me afogar e, me amarrar no imediatismo
Mas o mundo é injusto e justo
Justo com os injustos
Injustos com os justos
Julgamos os pobres pelo dinheiro
Mas aplaudimos os riscos pelo desprezo e migalhas lamuriadas que jogam nos pobres
O pecado me afastou
Eu me lembro, de ter saído numa, quinta ou sexta
Procurando saídas para esta miséria
E foi numa sexta que eu ia, ia num caminho sem volta.
Tanto chorei para conseguir uma megalha de pão
E o diabo apareceu, parecendo dá-me a mão
E no entanto não percebi, e comecei gritar, minha cansola mó, irmão.
compreendo a gente que desiste da própria vida feita de assombros persistentes; feita de canseiras promovidas pelos artifícios do mundo que a rodeia; feita do delicado cristal das suas adversidades.