ALFABETIZANDO

Ah! Quem não lembra quando na vez primeira
Sentou-se Joaquim tímido na carteira?

Aquele pedreiro cheirando a concreto,
Pai de família, modesto, analfabeto...

Perante o quadro negro todo encolhido,
Temendo o abecedário desconhecido.

Tão cuidadoso co`as folhas da cartilha,
Segurando-a qual sua primeira filha.

Com a língua no lápis molhando a ponta,
Repetindo as vogais sem qualquer conta.

No caderno a letra feia “destrilhada”
Feita no tremor da mão tão calejada.

Da professora a dedicação fraterna,
Em seu ensino uma postura materna.

Lá fora a noite de belas festas cheia,
Aquela sala parecendo uma cadeia.

Dias e dias afrontando o cansaço,
Cada degrau avançando em lento passo.

A vergonha perdendo com certo alarde,
Pois para quem quer aprender nunca é tarde!

E, certa noite, espanta-nos uma cousa,
O Joaquim levanta-se a vai à lousa.

Silencioso, pega o giz qual quem domina,
Com quatro letras escreve o nome “Nina”.

Então, gargalha muito, nervosamente
E questionam-lhe a atitude irreverente.

Joaquim conta orgulhoso por aprender:
- Puxa, Nina é o nome da minha mulher!

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Comentários

Alexandre
Teria muitos motivos tais desconhecidos para me identificar com essa sua Poesia.
Mas deveras o que quero ressaltar é a sua delicadeza intencional ou não, em nos trazer em versos tão simples , os quais sabes que aprecio... a sensação de Honradez e Dignidade desperta em todos aqueles que sabem o valor das palavras e o do deixar da ignorância! 
 
Parabéns! Este é um belo trabalho! Admirável. 
Abraço.
Fah Gimenes 

Compartilhei. Gosto de poemas estéticamente construídos. Parabéns