Primeiro ensaio do nosso filme

Eram dias antes do teu aniversário, e só roupas, comida e papéis se atravessavam à frente dos meus olhos. Pressentia que em breve, estes meus iriam esvaziar e o coração arrefecer.

Começavam as horas da campainha tocar, trocavam-se abraços, palavras de conforto e de esperança.

O tempo aproximava-se, as malas fechavam-se com mil gente a forçar e o role de vazios começava a refletir-se nos armários.

Chegou a última noite. Mas mais parecia dia, todos andavam de um lado para o outro. Quase que fizemos a meia-maratona só em andanças! Inevitavelmente sendo o primeiro ensaio deste filme, eu estivesse a sentir frio na espinha e as mãos paralisassem no momento em que te iria agarrar.

O despertador tocou, mas de nada adiantou! Já estávamos todos despertos e prontos para seguir viagem.

O carro estava lotado de malas e de pessoas e de música. O outro carro estava povoado de silêncio e de emoções estranhas; nunca eu tinha dado por elas! As recordações construíam a estrada que o nosso carro corria.

Chegámos ao aeroporto, última paragem para mim e primeira para ti. Saíram do carro as malas e nós para te acompanhar (até ao último minuto!).

Parecia que era a primeira vez que andava dentro do aeroporto, tudo parecia não ser visível: carrinhos para transportar as malas, números de portas, horas de aberturas...

Encontrámos. O check-in foi feito, as malas enviadas, só restavam: nós e tu. Naquele instante, só desejava que do sítio do check-in até ao último minuto fossem milhões de quilómetros. Seria um pedido assim tão descabido?

Começámos a rastejar até lá, a rastejar... devagar e lentamente, e a querer-mos estar sempre todos junto de ti.

Os meus olhos eram senhores de uma força enorme para não vacilarem até ao último minuto.

O minuto final badalou. Estava na hora de... Mais palavras, mais olhares, mãos amigas e do abraço quase a sufocar.

Tu começaste a desaparecer pelo nevoeiro de que os meus olhos estavam a ser alvos. Naquele instante senti-me sem esqueleto, nós abraçámo-nos e rapidamente inundei as nossas roupas.

Estava na hora de sair daquele espaço impessoal. Partimos no carro despovoado de malas e povoado de silêncio.

Até ao segundo ensaio! Que o primeiro está testado.

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